quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A mola do tempo


O tempo por O.Jr Bentes

O tempo é uma mola comprimida, pronta a propulsar o homem, quem o vê superficialmente, sem muita atenção, o percebe como linha, uma reta ou mesmo uma corda, mas quem o vislumbra mais aguçadamente, percebe algo de estranho, ele dá voltas que só a vida dá. Por vezes ele se encolhe e passamos a ter a impressão que tudo passa muito lentamente, nesse período tudo fica monótono, tudo permanece, tudo fica muito lento, é cotidiano demais para nós seres humanos. Por vezes ele se distende e tudo passa muito rapidamente, numa quinta, numa sexta,ou num sábado a noite, tudo tem que ser decidido no aqui e no agora. Por vezes sinto a sensação de estar vendo tudo de novo, e por um instante nos angustiamos, num deja-vu, mas percebemos que tudo é reflexo, que há sempre um aspecto novo a ser vislumbrado, diferenciando-se de tudo que havia sido visto antes. O tempo nos causa, então, uma nova sensação que, ele mesmo, é muito mais amplo, e a vida é muito mais ampla. O homem é muito mais amplo, muito mais multisocioeconomicocultural, muito mais coletivo do que alguns querem fazer crer. E o tempo? Como antes ele sofre uma espécie de refluxo para então se distender muito mais ainda, voltando a parecer uma reta e nela todos vamos numa média escalar. Então, ele se acelera parecendo que vamos quebrar a barreira do som, da luz, parece que vamos dar um salto. E demos ou não demos um salto? Que nada, é tudo continuidade. Ele volta a dobrar-se em um ciclo de uma mola ainda maior, tão grande que, só estando na Lua, para perceber o tamanho dos ciclos e entendermos que ele deve ser infinito enquanto dure.”