terça-feira, 24 de janeiro de 2017

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Resenha - Resumo Jogo de Cena de Eduardo Coutinho

UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ - UFOPA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE – ICS
PROGAMA DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA
PROFESSORES: LUCIANA FRANÇA E RAFAEL MORAES
2º SEMESTRE DE 2016
ALUNO: ONESTALDO JUNIOR – “OJR” BENTES - VERON

Resumo/Resenha - Jogo de Cena

Jogo de Cena é um filme documentário brasileiro, lançado em 9 de novembro de 2007 e dirigido por Eduardo Coutinho. Em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Sinopse

Atendendo a um anúncio de jornal, oitenta e três mulheres, interessadas em participar do documentário, contaram suas histórias de vida em um estúdio. Coutinho convida as personagens a compartilharem suas alegrias e tristezas, convidando para bem perto as experiências mais marcantes. Em junho de 2006, vinte e três delas foram selecionadas e filmadas no Teatro Glauce Rocha. Em setembro do mesmo ano, atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias contadas pelas personagens escolhidas. O longa mistura realidade e dramaturgia, onde os personagens reais falam da sua própria vida, depois estas personagens se tornam modelos a desafiar atrizes e por fim, as atrizes interpretam as personagens.

Elenco

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_de_Cena

Texto base: Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho (Brasil, 2007) por Felipe Bragança: http://www.revistacinetica.com.br/jogodecenafelipe.htm

Eduardo Coutinho desafia o espectador a definir o que é documentario e o que é ficção.

Acho que o principal do vídeo foi entender melhor o que é um documentário.
Realizar documentários para colocar o próprio gênero em discussão tem sido uma constante no cinema brasileiro. A questão fundamental é: até que ponto um documentário pode ser considerado documento fiel da realidade?
Essa questão - que em maior ou menor grau atravessa toda a obra de Coutinho - é o centro de Jogo de Cena (2007). E para trazer o público para dentro da sua pensata o cineasta parte de uma pegadinha.
Em junho de 2006, Coutinho colocou um anúncio no jornal: procurava mulheres dispostas a contar as suas experiências na frente de uma câmera. De 83, 23 foram selecionadas, os seus depoimentos, tomados no teatro Glauce Rocha, no Rio - todas as mulheres sentadas em uma cadeira sobre o palco, de costas para a platéia vazia. Três meses depois, em setembro, Coutinho pediu a atrizes que assistissem às gravações de junho e encenassem diante da câmera aqueles relatos como se fossem elas, as atrizes, as verdadeiras mulheres daquelas histórias de vida.
Tudo isso só ficamos sabendo depois. A pegadinha: Coutinho não nos diz quem é atriz e quem é entrevistada. Estão todas sentadas naquela cadeira de costas para o "público", e a cada duas histórias absolutamente idênticas aprendemos que uma delas é encenação. Na hora em que as atrizes reaparecem e começam, então, a contar as suas próprias histórias, o jogo embola de vez.
A tensão do documentário começa na subida das escadas das “candidatas”.
Evidentemente, a própria decisão de filmar dentro de um teatro já pressupõe um ponto de vista: diante de uma câmera ligada, sejam atores ou não, as pessoas assumem um papel. Se no nosso próprio cotidiano já criamos para nós uma persona (especialmente numa época em que o "parecer" já é mais importante do que o "ter" e o "ser"), o que dizer então quando estamos à frente do entrevistador...
Não fosse a presença de três atrizes conhecidas dentre aquelas que se apresentam diante de nós, por exemplo, ficaria dificílimo saber ao menos uma vez quem está "mentindo" ali. Mas a grande questão é: não estamos todos "mentindo" o tempo inteiro?
Uma outra questão que ele nos coloca é abusca pela verdade, inclusive pela exata representação dos sentimentos postos em cena, a forma como as atrizes faziam para entrar na personagem e fazer-nos sentir como elas faziam para representar os sentimentos, busca essa a de todo documentarista, Coutinho sabe que é impossível alcançá-la. O que Jogo de Cena nos diz, ao expor os mecanismos do documentário, é que é possível se aproximar da verdade uma vez que temos consciência da impossibilidade de chegar a ela.

Candidatas a “atrizes”, atrizes verdadeiras, o erro do acerto, a narrativa emocionada, a projeção de imagens pela palavra, o ruído que a narrativa nos dá – um liquidificador de pulsões do corpo, do desejo, das normas familiares, dos medos, dos ruídos, dos preconceitos, das verdades que assim o são pelo que afetam. Jogo de Cena é o cinema e Coutinho levado ao limite de seu maravilhamento, onde a afecção da imagem mais de desdobra em afetividade concreta, anedótica, cotidiana – da possibilidade do afeto como imersão de mundo, de generosidade, de construção de personagens através do tom dos olhos, do ritmo de respiração, da fala-como-se-fala.
As questões antropológicas vislumbrada são: o jogo de imersão cultural de Bronisław Malinowski que fala da importância da imersão cultural para poder compreender e escrever sobre diferentes valores e estruturas sociais, deve-se ver como o outro, sentir como o outro, para trazer a tona detalhes do cotidiano das pessoas que estão no fundo da cultura. A imersão cultural é o processo em que o pesquisador, por iniciativa própria, sai de sua zona de conforto e começa a entrar na cultura de um determinado povo. Nesse processo de convivência com a nova cultura, o pesquisador pode realmente entender a forma de pensar e agir desse povo com o qual ele irá compartilhar o dia-a-dia. De acordo com os depoimentos das atrizes é importante conviver com as pessoas que inspirarão os personagens para focar nas narrativas que mais bem descrevem a personalidade das personagens para serem melhore representadas; outra questão é o de Representações sociais. As representações sociais têm no psicólogo social Serge Moscovici a sua primeira base teórica, em 1961, através da obra A Psicanálise, sua imagem e seu público.
O objectivo da Teoria das Representações Sociais é explicar os fenómenos do homem a partir de uma perspectiva colectiva, sem perder de vista a individualidade. Uma conceituação formal, entretanto, Moscovici (SÁ, 2004, p. 30) se negou a fazer de forma contundente: "A demanda por exactidão de significado e por definição precisa de termos pode ter um efeito pernicioso, como eu acredito ter tido freqüentemente nas ciências do comportamento"; o outro é de Interpretações da cultura e o de Descrição Densa. Descrição densa é um termo que se tornou conhecido a partir dos trabalhos do antropólogo muitas das vezes Clifford Geertz (19262006), principalmente em seu texto Uma Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura (Thick Description: The Interpretation of Cultures 1973). Clifford Geertz, nesse trabalho, parte do princípio de que a Cultura é formada por teias de significados tecidas pelo homem. Significados estes que os homens dão às suas ações e a si mesmos. Assim a etnografia, para conhecer a cultura, mais que registrar os fatos, deve analisar, interpretar e buscar os significados contidos nos atos, ritos, performances humanas e não apenas descrevê-los.
As atrizes convidadas para repetir, reiterar, diferenciar as narrativas primeiras das não-atrizes, vão nos dando a possibilidade de uma emoção que é, em ultima instancia, a emoção seminal da dramaturgia no cinema: rever a emoção da vida! São várias atrizes, repetindo e representando a maneira delas a mesma narrativa.
Em Jogo de Cena, Coutinho resume esse processo em firmes 100 minutos de projeção. O efeito com o qual nos deparamos quando a narrativa se repete (seja por paralelismo, seja em dois momentos separados da projeção) é o de se rever/rencontrar a verdade, e nessa repetição, nessa ansiedade de se saber o que se ouvirá, uma abertura maior para o segredo que está nas entrelinhas do diálogo. Quando já se conhece o que será dito, o olhar procura o que não está. Essa repetição e a diferenciação dão às falas, aqui, o lugar majestoso da fabulação (como em todos os grandes filmes “ficcionais” ou “documentais’), mas em uma intensidade nunca antes vista – uma intensidade que é a celebração mais pura, maternal, uterina, da vida. Filhos, saudades, sonhos, fantasmas, amores. A fantasmagoria daqueles rostos é a alma que as atrizes tentam sugar das mulheres “reais’, esses fantasmas imensos que são os rostos na tela grande e imensa desse cinema que imita a vida, que imita não por substituição, mas por desejo, por reverencia.
Por isso, hoje, assim, diante dessa genialidade sem esforço, encontramos em Eduardo Coutinho um acontecimento raro e um enigma. Como um daqueles magos mal-humorados e metódicos, que fazem mágicas sempre com o mesmo baralho e o mesmo fraque surrado que carrega: onde alguma coisa sutil, quase imperceptível, nos dribla a repetição e a percepção, as cartas iguais, os mesmos naipes, a consciência do truque, do DISPOSITIVO... Fazendo daquelas “cabecinhas-falantes”, daquelas ditas “entrevistas”, daquele cenário sem cenário, um lugar sempre novo (constante e forte) de beleza.



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