UNIVERSIDADE
FEDERAL DO OESTE DO PARÁ - UFOPA
INSTITUTO
DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE – ICS
PROGAMA
DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA
PROFESSORES:
LUCIANA FRANÇA E RAFAEL MORAES
2º
SEMESTRE DE 2016
ALUNO:
ONESTALDO JUNIOR – “OJR” BENTES - VERON
Resumo/Resenha - Jogo de Cena
Jogo
de Cena é um filme
documentário
brasileiro,
lançado em 9
de novembro de 2007
e dirigido por Eduardo
Coutinho. Em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela
Associação
Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100
melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Sinopse
Atendendo
a um anúncio de jornal, oitenta e três mulheres, interessadas em
participar do documentário, contaram suas histórias de vida em um
estúdio. Coutinho
convida as personagens a compartilharem suas alegrias e tristezas,
convidando para bem perto as experiências mais marcantes. Em junho
de 2006, vinte e
três delas foram selecionadas e filmadas no Teatro
Glauce Rocha. Em setembro
do mesmo ano, atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias
contadas pelas personagens escolhidas. O longa mistura realidade e
dramaturgia,
onde os personagens reais falam da sua própria vida, depois estas
personagens se tornam modelos a desafiar atrizes e por fim, as
atrizes interpretam as personagens.
Elenco
-
Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres, Aleta Gomes Vieira, Claudiléa, Cerqueira de Lemos, Débora Almeida, Gisele Alves Moura, Jeckie Brown, Lana Guelero, Maria de Fátima Barbosa, Marina D'Elia, Mary Sheyla, Sarita Houli Brumer
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_de_Cena
Texto
base:
Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho (Brasil, 2007)
por Felipe Bragança:
http://www.revistacinetica.com.br/jogodecenafelipe.htm
Eduardo
Coutinho desafia o espectador a definir o que é documentario e o que
é ficção.
Acho que o
principal do vídeo foi entender melhor o que é um documentário.
Realizar
documentários para colocar o próprio gênero em discussão tem sido
uma constante no cinema brasileiro. A questão fundamental é: até
que ponto um documentário pode ser considerado documento fiel da
realidade?
Essa questão - que
em maior ou menor grau atravessa toda a obra de Coutinho - é o
centro de Jogo de Cena
(2007). E para trazer o público para dentro da sua pensata o
cineasta parte de uma pegadinha.
Em junho de 2006,
Coutinho colocou um anúncio no jornal: procurava mulheres dispostas
a contar as suas experiências na frente de uma câmera. De 83, 23
foram selecionadas, os seus depoimentos, tomados no teatro Glauce
Rocha, no Rio - todas as mulheres sentadas em uma cadeira sobre o
palco, de costas para a platéia vazia. Três meses depois, em
setembro, Coutinho pediu a atrizes que assistissem às gravações de
junho e encenassem diante da câmera aqueles relatos como se fossem
elas, as atrizes, as verdadeiras mulheres daquelas histórias de
vida.
Tudo isso só
ficamos sabendo depois. A pegadinha: Coutinho não nos diz quem é
atriz e quem é entrevistada. Estão todas sentadas naquela cadeira
de costas para o "público", e a cada duas histórias
absolutamente idênticas aprendemos que uma delas é encenação. Na
hora em que as atrizes reaparecem e começam, então, a contar as
suas próprias histórias, o jogo embola de vez.
A tensão do
documentário começa na subida das escadas das “candidatas”.
Evidentemente, a
própria decisão de filmar dentro de um teatro já pressupõe um
ponto de vista: diante de uma câmera ligada, sejam atores ou não,
as pessoas assumem um papel. Se no nosso próprio cotidiano já
criamos para nós uma persona (especialmente numa época em que o
"parecer" já é mais importante do que o "ter" e
o "ser"), o que dizer então quando estamos à frente do
entrevistador...
Não fosse a
presença de três atrizes conhecidas dentre aquelas que se
apresentam diante de nós, por exemplo, ficaria dificílimo saber ao
menos uma vez quem está "mentindo" ali. Mas a grande
questão é: não estamos todos "mentindo" o tempo inteiro?
Uma outra questão
que ele nos coloca é abusca
pela verdade, inclusive pela
exata representação dos sentimentos postos em cena, a forma como as
atrizes faziam para entrar na personagem e fazer-nos sentir como elas
faziam para representar os sentimentos,
busca essa a de todo documentarista, Coutinho sabe que é impossível
alcançá-la. O que Jogo de
Cena nos diz, ao expor os
mecanismos do documentário, é que é possível se aproximar da
verdade uma vez que temos consciência da impossibilidade de chegar a
ela.
Candidatas
a “atrizes”, atrizes verdadeiras, o erro do acerto, a narrativa
emocionada, a projeção de imagens pela palavra, o ruído que a
narrativa nos dá – um liquidificador de pulsões do corpo, do
desejo, das normas familiares, dos medos, dos ruídos, dos
preconceitos, das verdades que assim o são pelo que afetam. Jogo
de Cena é o cinema e Coutinho levado ao limite de seu
maravilhamento, onde a afecção da imagem mais de desdobra em
afetividade concreta, anedótica, cotidiana – da possibilidade do
afeto como imersão de mundo, de generosidade, de construção de
personagens através do tom dos olhos, do ritmo de respiração, da
fala-como-se-fala.
As
questões
antropológicas
vislumbrada são:
o jogo de imersão cultural de Bronisław
Malinowski que
fala
da importância da imersão cultural para poder compreender e
escrever sobre diferentes valores e estruturas sociais, deve-se
ver como o outro, sentir como o outro, para trazer a tona detalhes do
cotidiano das pessoas que estão no fundo da cultura.
A imersão cultural é o processo em que o pesquisador,
por iniciativa própria, sai de sua zona de conforto e começa a
entrar na cultura de um determinado povo. Nesse processo de
convivência com a nova cultura, o pesquisador
pode realmente entender a forma de pensar e agir desse povo com o
qual ele irá compartilhar o dia-a-dia.
De acordo com os
depoimentos das atrizes
é importante conviver com as pessoas que inspirarão os personagens
para focar nas narrativas que mais bem descrevem a personalidade
das personagens para serem melhore representadas;
outra
questão é o de Representações
sociais. As representações sociais têm no psicólogo
social
Serge
Moscovici a sua primeira base teórica, em 1961,
através da obra A
Psicanálise, sua imagem e seu público.
O objectivo da
Teoria das Representações Sociais é explicar os fenómenos do
homem a partir de uma perspectiva colectiva, sem perder de vista a
individualidade.
Uma conceituação formal, entretanto, Moscovici (SÁ, 2004, p. 30)
se negou a fazer de forma contundente: "A demanda por exactidão
de significado e por definição precisa de termos pode ter um efeito
pernicioso, como eu acredito ter tido freqüentemente nas ciências
do comportamento"; o
outro é de Interpretações da cultura e o de Descrição Densa.
Descrição densa
é um termo que se tornou conhecido a partir dos trabalhos do
antropólogo muitas das vezes Clifford
Geertz (1926–2006),
principalmente em seu texto Uma
Descrição Densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura
(Thick Description: The
Interpretation of Cultures
1973). Clifford
Geertz, nesse trabalho, parte do princípio de que a Cultura
é formada por teias
de significados
tecidas pelo homem.
Significados estes que os homens dão às suas ações e a si mesmos.
Assim a etnografia,
para conhecer a cultura, mais que registrar os fatos, deve analisar,
interpretar e buscar os significados contidos nos atos, ritos,
performances humanas e não apenas descrevê-los.
As
atrizes convidadas para repetir, reiterar, diferenciar as narrativas
primeiras das não-atrizes, vão nos dando a possibilidade de uma
emoção que é, em ultima instancia, a emoção seminal da
dramaturgia no cinema: rever a emoção da vida! São várias
atrizes, repetindo e representando a maneira delas a mesma narrativa.
Em
Jogo de Cena, Coutinho resume esse processo em firmes 100
minutos de projeção. O efeito com o qual nos deparamos quando a
narrativa se repete (seja por paralelismo, seja em dois momentos
separados da projeção) é o de se rever/rencontrar a verdade, e
nessa repetição, nessa ansiedade de se saber o que se ouvirá, uma
abertura maior para o segredo que está nas entrelinhas do diálogo.
Quando já se conhece o que será dito, o olhar procura o que não
está. Essa repetição e a diferenciação dão às falas, aqui, o
lugar majestoso da fabulação (como em todos os grandes filmes
“ficcionais” ou “documentais’), mas em uma intensidade nunca
antes vista – uma intensidade que é a celebração mais pura,
maternal, uterina, da vida. Filhos, saudades, sonhos, fantasmas,
amores. A fantasmagoria daqueles rostos é a alma que as atrizes
tentam sugar das mulheres “reais’, esses fantasmas imensos que
são os rostos na tela grande e imensa desse cinema que imita a vida,
que imita não por substituição, mas por desejo, por reverencia.
Por
isso, hoje, assim, diante dessa genialidade sem esforço, encontramos
em Eduardo Coutinho um acontecimento raro e um enigma. Como um
daqueles magos mal-humorados e metódicos, que fazem mágicas sempre
com o mesmo baralho e o mesmo fraque surrado que carrega: onde alguma
coisa sutil, quase imperceptível, nos dribla a repetição e a
percepção, as cartas iguais, os mesmos naipes, a consciência do
truque, do DISPOSITIVO... Fazendo daquelas “cabecinhas-falantes”,
daquelas ditas “entrevistas”, daquele cenário sem cenário, um
lugar sempre novo (constante e forte) de beleza.
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