terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Psicopatas leves



Por Bel César (terapeuta)


"Quem não conhece um "leve" psicopata? Depois de ter lido o livro "Mentes Perigosas", da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, você vai ver que conhece, e muitos!
Eles são narcisistas, egocêntricos. Pensam muito e sentem pouco. Tomam decisões a partir de como podem ser beneficiados com prazer, auto-satisfação, poder, status e diversão.
Além de terem o prazer no "errado", isto é, de nadar contra a corrente, facilmente se ofendem e tornam-se violentos, pois não suportam contrariedades. São sempre vítimas.

Intolerantes ao tédio ou a situações rotineiras, os psicopatas buscam situações que possam mantê-los em um estado permanente de alta excitação. Por isso, evitam atividades que demandam grande concentração por longos períodos. Compromissos e obrigações nada significam para eles.

Naturalmente, pessoas assim não são confiáveis. Eles mentem, manipulam e chantageiam sem a menor dificuldade. Inteligentes, manipuladores, especializados no assédio psicológico, sabem convencer os outros. Eles conhecem as fraquezas alheias, apesar de não serem capazes de sentir o que os outros sentem.

Um dado importante: todo psicopata, de grau mais leve ou mais alto, tem consciência de seus atos, mas não sente a dor que causa nos outros, porque simplesmente seu cérebro não funciona assim.

Vamos compreender isso melhor. A grande maioria dos seres humanos é formada de empáticos: o sofrimento alheio provoca dor neles mesmos, o que os leva a tentar ajudar seus semelhantes. Ajudar o outro é uma forma de aliviar a dor que este lhes causa. Desta forma, nosso cérebro nos leva a ter comportamentos que garantem a harmonia social.

De modo simples e didático, podemos resumir nosso cérebro em duas importantes áreas: o sistema límbico (a sede das emoções) e o lobo frontal (sede do raciocínio).

Uma pessoa empática é capaz de ter ações compassivas e socialmente adequadas pois, como seu sistema límbico é ativado por emoções básicas, como raiva e medo, ele envia sinais para o lobo frontal onde são ativadas as áreas responsáveis pelos aspectos cognitivos - frios e racionais, assim como o julgamento moral.

Estudos comprovam que 4% da população mundial sofre de um déficit nos circuitos do sistema límbico, que deixa de transmitir, de forma correta, as informações para que o lobo frontal possa desencadear comportamentos adequados. Ou seja, chegam menos informações do sistema afetivo para o centro executivo do cérebro. Assim, o lobo frontal, sem dados emocionais, prepara um comportamento lógico e racional, mas desprovido de afeto. Por isso, eles têm consciência de seus atos, mas não sentem a dor que causam nos outros!

Desta forma, os psicopatas não sentem medo nem ansiedade: parecem imunes ao estresse. Permanecem calmos em situações que fariam muitas outras pessoas entrar em pânico. São indiferentes à ameaça de punição. Eles têm até dificuldade de reconhecer medo e tristeza nos rostos e nas vozes das pessoas.

Uma vez que admitimos que uma pessoa é assim, biologicamente incapaz de se responsabilizar por suas ações, ficamos atônitos. Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, estas pessoas nascem assim e irão morrer assim. Então, desista de querer mudá-los!
Mas, como lidar com eles? Como sentir compaixão por estas pessoas capazes de ferir e destruir a vida de tantas outras pessoas?

Tenho pensado bastante sobre isso. Em primeiro lugar, creio que seja importante admitirmos que certas pessoas são mesmo assim. Não precisamos rotulá-las de psicopatas, associando-as com pessoas criminosas e intencionalmente agressivas. Apenas reconhecer que certas pessoas são mesmo um pouco assim.

Um pouco é um dado relevante. Reconhecer este pouco já vai nos ajudar muito! Pois passaremos a investir nos relacionamentos com uma moeda de troca mais real e coerente.

Por exemplo, quando alguém nos mantém refém de suas promessas. Parece que o melhor está sempre por vir e que cabe a nós, tão somente a nós mesmos, saber conter nossa ansiedade, nos responsabilizarmos pelos danos da espera e "confiar neles". Como pessoas empáticas, não somos impulsivos. Mas, quando as promessas revelam-se mecanismos de controle para manter a situação vigente, devemos abrir os olhos!
Nestes casos, segue aqui um conselho: não confunda o que uma pessoa diz ter para oferecer, com ela mesma. Sua capacidade de realizar o que diz não é real!

Portanto, a primeira coisa a fazer é ajustar a intenção com que as promessas são reveladas, com a realidade concreta dos fatos. Uma vez recuperada a lucidez de nossa real situação, temos que nos preparar para olhá-la sob uma nova perspectiva. Como diz o velho ditado: "mais vale um pássaro na mão do que dois voando".

Pare e reflita. Você está sendo refém de alguma promessa manipuladora? Caso a resposta seja sim, calma. Mesmo consciente de sua limitação, será preciso ir aos poucos. Procure ajuda daqueles que souberam reconhecer e superar relacionamentos semelhantes. Uma vez livres de tal jogo sedutor, poderemos ter compaixão por eles. Mas, antes disto, é preciso nos curar.

Lembre-se, eles não mudam e não será você que irá provar o quanto é boa e capaz ao tentar mudá-los!"

Depoimento de um anônimo:

Senti na pele o que um psicopata pode fazer num relacionamento. Conheci uma mulher e começei a relacionar com ela. No dia a dia percebi várias coisas: todos da família tinha algum grau de loucura menos a mulher que eu estava apaixonado; percebi também que ela não demosntrava muito ter sentimento, era fria, calculista. Até aí tudo bem, acha que poderia mudar algo. Mas descobri com o tempo que ela também tinha seu lado de loucura (cheguei a essa conclusão devido a vários fatores: familía tanto o pai como a mãe e irmãos tinha algum desvio, ela usava medicamentos receitados por um psiquiatra e pior de todos para mim. Ela buscava sempre mais parceiros. Notei também que ela auto se denuciava. Quando eu percebi já estava presso por ela e não foi fácil terminar mas consegui mas com a sensação de culpa de não conseguir ajudar. Aliás não 100% de culpa pois em um momento de nossa relação consegui fazer-la ter algum sentimento pelo próximo (não estou referindo a mim), a outras pessoas. Consegui faze-la chorar, derramar lágrimas e mais lágrimas. Também concordo que o psicopata também tem sentimento mais não demosntra. Uma vez perguntei para ela se tinha sentimento e ela me disse que sim dúvidei mas nesse dia vi que tinha sentimento. Foi por pouco que quase me tornei um co-depentente.”

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