A mola do tempo
O tempo por O.Jr Bentes
“O
tempo é uma mola comprimida, pronta a propulsar o homem, quem o vê
superficialmente, sem muita atenção, o percebe como linha, uma reta ou
mesmo uma corda, mas quem o vislumbra mais aguçadamente, percebe algo de
estranho, ele dá voltas que só a vida dá. Por vezes ele se encolhe e
passamos a ter a impressão que tudo passa muito lentamente, nesse
período tudo fica monótono, tudo permanece, tudo fica muito lento, é
cotidiano demais para nós seres humanos. Por vezes ele se distende e
tudo passa muito rapidamente, numa quinta, numa sexta,ou num sábado a
noite, tudo tem que ser decidido no aqui e no agora. Por vezes sinto a
sensação de estar vendo tudo de novo, e por um instante nos angustiamos,
num deja-vu, mas percebemos que tudo é reflexo, que há sempre um
aspecto novo a ser vislumbrado, diferenciando-se de tudo que havia sido
visto antes. O tempo nos causa, então, uma nova sensação que, ele mesmo,
é muito mais amplo, e a vida é muito mais ampla. O homem é muito mais
amplo, muito mais multisocioeconomicocultural, muito mais coletivo do
que alguns querem fazer crer. E o tempo? Como antes ele sofre uma
espécie de refluxo para então se distender muito mais ainda, voltando a
parecer uma reta e nela todos vamos numa média escalar. Então, ele se
acelera parecendo que vamos quebrar a barreira do som, da luz, parece
que vamos dar um salto. E demos ou não demos um salto? Que nada, é tudo
continuidade. Ele volta a dobrar-se em um ciclo de uma mola ainda
maior, tão grande que, só estando na Lua, para perceber o tamanho dos
ciclos e entendermos que ele deve ser infinito enquanto dure.”
Para minha monha (Sabina de Oliveira Nunes Colares) eternamente. Te amo!
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