segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL


A representação social é um recurso muito importante para se viver em sociedade, isso porque ela engloba explicações, idéias e manifestações culturais que caracterizam um determinado grupo. A representação acontece a partir da interação dos indivíduos e apesar do homem viver em um ambiente, ele não perde os atributos típicos de sua personalidade.

A primeira base teórica do conceito foi elaborada por Serge Moscovici em 1961, ele utilizou estudos na área de psicanálise para chegar as suas conclusões. Para de entender as relações humanas, é necessário fazer uma análise do coletivo, verificando assim a troca de conhecimentos que a representação social é capaz de promover dentro do grupo.

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Moscovici ainda afirmou nos seus estudos que existem duas formas de representação social, a ancoragem e a objetivação. A primeira faz referência às idéias abstratas que ganham um formato real, já a segunda desenvolve novas imagens de um assunto e propicia a criação de novos conceitos a partir de um assunto. É válido lembrar que o estudo da Representação social se mostra importante para compreender o avanço da sociedade e o comportamento do individuo inserido num grupo.
"As representações que nós fabricamos – duma teoria científica, de uma nação, de um objeto, etc – são sempre o resultado de um esforço constante de tornar e real algo que é incomum (não-familiar), ou que nos dá um sentimento de não-familiaridade. E através delas nós superamos o problema e o integramos em nosso mundo mental e físico, que é, com isso, enriquecido e transformado. Depois de uma série de ajustamentos, o que estava longe, parece ao alcance de nossa mão; o que era abstrato torna-se concreto e quase normal (...) as imagens e idéias com as quais nós compreendemos o não-usual apenas trazem-nos de volta ao que nós já conhecíamos e com o qual já estávamos familiarizados (Moscovici, 2007,p.58)"

pt.wikipedia.org/wiki/Representações_sociais

Entendo que as representações sociais são modos inconscientes de compreender um determinado fenômeno ou uma determinada prática existencial, individual ou coletiva, que se expressam por meio de falas cotidianas, crenças, provérbios, modos de agir, que podem estar vinculados ao passado, ao presente ou ao futuro. São crenças ou práticas que, por si e aparentemente, não têm
razão de ser, mas que se dão, se realizam e permanecem como um padrão de conduta dos indivíduos e/ou de coletividades, sem que se tenha de dar justificativas de por que elas são como são. Em síntese, são crenças inconscientes que se manifestam nas falas, nos chistes, nos discursos, nas piadas e, especialmente, na ação cotidiana.
Freud estudou esses fenômenos como expressões de conteúdos recalcados no inconsciente de cada individuo ou como padrões psicoculturais assimilados como corretos e armazenados numa função da psique humana denominada superego3. Tanto os conteúdos do inconsciente recalcado quanto os do superego atuam automaticamente sobre nossas expressões cotidianas, seja pela fala, seja pela ação. Por exemplo, nossas piadas sobre as mulheres, os portugueses, a sexualidade revelam, na quase totalidade das vezes, nossos pré- conceitos relativos a esses seres humanos, ou a esses fenômenos. São pré-conceitos cuja origem sequer conseguimos identificar - rimos das piadas e pronto, não nos damos conta de sua perversidade. Elas expressam representações sociais inconscientes que temos sobre os conteúdos de que tratam. No entanto, os conteúdos do superego também produzem representações sociais, quase sempre com algum caráter moralista, impositivo, tais como: nosso modo herdado, imposto de fora, de nos relacionarmos com a autoridade, com a religião, com a sexualidade. O superego define a forma ́correta` de agir nas mais variadas circunstâncias. Esses conteúdos foram herdados - da família, da cultura regional, de padrões religiosos confessionais - e entranharam-se num modo inconsciente de agir, todavia não são recalcados, e sim superpostos ao modo de ser do sujeito. Assim, podemos dizer que o superego é uma superposição cultural proveniente das heranças morais e ritualísticas impostas ao sujeito, produzindo um modo automático de agir.
Wilhelm Reich (1896-1957), psiquiatra alemão, discípulo e, posteriormente, dissidente de Freud, compreendeu que as experiências psíquicas, das quais falava seu mestre, davam-se no corpo, vale dizer, as heranças passadas, fossem elas do inconsciente recalcado, do superego ou do ego (como administrador das relações, as mais equilibradas possíveis entre o interior e o exterior do individuo, entre o interior [id] e o mundo exterior, entre princípio do prazer e o princípio da realidade), manifestavam-se no corpo, pelas denominadas couraças musculares. Ou seja, cada um de nós manifesta padrões corporais que sintetizam nossa história de vida congelada, como diz Reich. Esses padrões revelam as crenças mais íntimas e profundas que temos, por estarem marcadas em nosso corpo, como cicatrizes do nosso caminhar pela vida, de nossas interações, de nossas heranças e crenças, adquiridas em nossas experiência pessoais ou em decorrência de nossas heranças familiares e socioculturais. Tudo isso que se expressa em nosso corpo também dá forma a nossa ação, sem que prestemos atenção a ela. David Boadella, estudioso e admirador dos estudos de Reich5, nos diz que é impossível o ser humano não se comunicar: basta estar presente que está se comunicando, seja pela configuração do seu corpo, pela postura, pelos gestos ou pela fala; enfim, pelo estar presente. Stanley Keleman, pesquisador norte-americano que, hoje, vive na Califórnia, USA, e que criou uma área de conhecimentos chamada Psicologia Formativa, escreve um livro cujo título é Seu corpo fala de sua mente6, ou seja, nosso corpo expressa nossas crenças, foi forjado por elas. Em síntese, quero dizer que nosso corpo revela nossas representações sociais; basta saber lê-las. No cotidiano, usamos muitas metáforas com as quais expressamos nossos estados de ser, que são expressões do nosso inconsciente fixadas em nosso corpo. Assim, para expressar um estado de não agüentar mais, dizemos “estou com um peso nas costas”; para dizer que não conseguimos expressar alguma coisa, “estou com um nó na garganta”; para dizer que estamos ansiosos, “tenho uma pedra no estômago”;] para demonstrar que estamos sentindo que uma situação qualquer não está bem, dizemos “isto está me cheirando mal”, e assim por diante. De fato, nada disso é real; são expressões metafóricas de experiências que estão, profunda e inconscientemente, arraigadas em nosso corpo.
Carl Gustav Jung, excepcional pesquisador da alma humana, revela que muitos padrões de condutas e crenças que possuímos provêm do inconsciente coletivo7. Este é constituído de heranças socioculturais e históricas, que assumimos e praticamos sem ao menos saber de onde vieram e, muitas vezes, qual o seu real sentido. Jung trabalha com elementos simbólicos profundos das múltiplas e ricas experiências sagradas, religiosas e culturais da humanidade; todavia, para nosso uso neste texto, podemos nos ater ao prosaico, à nossa herança cotidiana. Temos crenças e repetimo-las, sem que saibamos seu significado originário, tais como: “passar por debaixo de uma escada dá azar”; “chupar manga e tomar leite faz mal”; “treze de agosto é dia do azar”; “sapato emborcado, pai morre”; “usar cueca ou calcinha pelo avesso dá proteção”. De onde vieram essas crenças, quando se iniciaram, quais são seus fundamentos? Até mesmo em famílias que nunca se utilizaram dessas crenças, existem pessoas que respeitam esses valores - como elas assimilaram esses padrões? Na compreensão de Jung (e eu concordo plenamente com ele), elas estão profunda e intimamente fixadas em nosso inconsciente coletivo, em nossas heranças - elas são nossas representações sociais.
Por último, quero mencionar os estudos do biólogo inglês Rupertet Sheldrake sobre os campos mórficos que nos constituem, por meio de um processo de interação inconsciente com eles. Campos são regiões imateriais de influência, que já foram estudados pela Física e pela Biologia. Constituem também regiões imateriais de influência, que têm por suporte a ambiência de nossas heranças, produzindo padrões de conduta, usualmente repetitivos.
Campos mórficos são campos organizadores de padrões de conduta e modos de ser, e atuam por uma ação a distância, sem os serviços de recursos materiais que façam a mediação. Representam um tipo de memória coletiva de um grupo, que molda cada individuo-membro, para a qual cada um contribui exercendo influências sobre membros futuros do mesmo grupo.
A assimilação da herança viria por ressonância mórfica, ou seja, as formas do passado ressoam em nós, de tal forma que as assimilamos inconscientemente. Os membros anteriores de uma sociedade, enquanto agem, formam um campo que atua sobre todos. Poderíamos pensar que o passado exerce uma pressão sobre o presente e que está potencialmente presente em todos os lugares. Influências mórficas do passado se fazem presentes em organismos similares subseqüentes. Padrões de conduta se fazem presentes em todos os indivíduos daquela espécie por um processo de ressonância mórfica, e quantos mais sejam os indivíduos que pratiquem um determinado padrão de conduta, mais força terá esse padrão sobre as heranças futuras. Ao praticarmos rituais do passado, entramos em ressonância com as forças das comunidades que os praticaram. Sem nos darmos conta, estamos sob o campo de ressonância dessas forças e repetimos padrões de conduta: o campo mórfico nos configura.

www.luckesi.com.br/artigosavaliacao.htm

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