Drifters -1929
Dirigido por:
John Grierson
O termo DOCUMENTÁRIO foi usado pela primeira vez num artigo escrito por Grierson para o jornal New York Sun em fevereiro de 1926. Era o comentário do filme MOANA de Robert Flaherty e o termo foi emprestado do francês "documentaire" com o qual eram designados os filmes de viagem.
Assim Grierson escreveu: "sendo um relato visual da vida cotidiana dos jovens polinésios tem valor documental". Mais tarde definiu esse tipo de filme como "de tratamento criativo da atualidade". Essas definições do cinema documentário vão designar, nos seguintes vinte anos, um vasto e riquíssimo filão de filmes de comentário social.
O desenvolvimento mais importante e
influente internacionalmente no Cinema Britânico foi o movimento do
filme documentário, caracterizado por filmes baseados na realidade e
feitos fora da indústria comercial, como reação aos filmes escapistas de
Hollywood, que então dominavam as telas britânicas.
Este movimento resultou basicamente dos
esforços de um escocês de nascença chamado John Grierson (1898-1972).
Criado perto de Stirling, ele foi fortemente influenciado desde a
juventude pelo trabalhismo, que era então chamado de “Red Clydeside” ou
“Clydeside Socialism”, porque era oriundo de um distrito de operários
situado nas margens do Clyde River em Glasgow.
Em 1927, convencido de que o filme documentário deveria não somente
proporcionar um “tratamento criativo da realidade”, mas também ser usado
pelo Estado para despertar a consciência dos espectadores, Grierson
voltou para a Inglaterra, onde encontrou um apoio na pessoa de Stephen
(depois Sir Stephen) Tallents, Secretário da Empire Marketing Board,
instituição do governo encarregada de promover o comércio e a cooperação
econômica entre os países membros da Comunidade Britânica. Tallents
conseguiu financiamento para Grierson realizar um documentário, Drifters, sobre a indústria da pesca de arenques no Mar do Norte.
Clássico do documentário mundial, Drifters fala sobre a vida dos pescadores de arenque na costa
oeste da Escócia. Acompanha o trajeto de um barco em direção ao
alto-mar, o lançamento das redes, o retorno ao porto sob uma terrível
tempestade e a comercialização do peixe no mercado. Fortemente
influenciado pelo O Encouraçado Potemkin (1925), de Eisenstein, Grierson
lança mão de artifícios análogos, como a valorização do ambiente
náutico, o corte rápido e a montagem como principal geradora de emoção
no espectador. Drifters é uma peça de propaganda cujo principal efeito
foi consolidar Grierson na produção cinematográfica britânica dos anos
de 1930.
Drifters (1929), que julgamos ser o único filme realizado e montado por Grierson - a partir dessa data foi sempre produtor - tem como tema a pesca do arenque no Mar do Norte. Uma pequena vila em Shetlands é o local de onde as suas personagens partem para a pesca. Não podemos dizer que se trata de um filme apenas sobre os pescadores o seu trabalho é, também, um filme sobre o mar. Neste filme que podemos dividir em 3 partes (ou sequências): partida para o mar; pesca e tempestade no mar; regresso e venda do peixe, a maior parte dos seus planos são grandes planos ou planos aproximados, esta intimididade com o trabalho dos pescadores (apenas alguns planos de rosto surgem em todo o filme, em especial quando se aproxima a tempestade e na venda de peixe) não serve apenas para mostrar as dificuldades e a dureza da pescaria, consegue colocar o trabalho enquanto valor maior desses homens. Depois de lançarem as redes, cai a noite. O que em muitos filmes seria a simples passagem da noite para o dia, aqui, enquanto os pescadores descansam, vemos o que se passa debaixo de água. Os peixes-cão e congros rondam as redes para caçar outros peixes. Ao longo desta cena, Grierson dá especial destaque às redes, o recurso a um plano anterior é sintomático: à superfície da água a rede tem um comprimento que se confunde com o próprio horizonte, as redes serão pois quase infinitas, pelo que se garante boa pescaria, para além disso fomos informados anteriormente que foram lançadas ao mar 2 milhas de rede. A sobreposição de imagens é um recurso que se destaca. Logo no início, ao sobrepor planos das máquinas do navio com o homem que lança carvão na fornalha, interligados com planos do navio a avançar em direcção ao mar alto, fica claro que o esforço e a determinação (e o uso da maquinaria, da ``industrialização'') conseguem romper a força do mar. Num outro momento, quase no final do filme é tocante a sobreposição das ondas do mar com as pessoas que circulam no Porto de Yarmouth para comprar peixe. Apesar da força das ondas, o mercado de venda de peixe faz a sua função enviando a mercadoria para o resto do mundo. Uma montagem a vários ritmos (planos mais longos no início e planos de menor duração no momento da tempestade; muito em consonância com o ritmo da montagem soviética dos anos 20) e inter-títulos5 que informam sobre a pesca em curso salientando os principais momentos desse trabalho ou pormenores relacionados com a pesca (por exemplo, após o inter-título 12 - nota de rodapé 4 - surge um plano em que a linha da rede balança à superfície da água serpenteando o seu caminho em direcção ao horizonte), não poderão deixar o espectador indiferente. O espectador é guiado pelas imagens e, em especial, pelos inter-títulos, desde uma pequena vila até ao resto do mundo. O trabalho de uma pequena vila, a pesca de arenque, é colocada numa posição de superioridade ficando implícitos os benefícios de ser produtora e o resto do mundo necessitar dessa sua produção.
A partir desse seu filme, Grierson defendeu duplamente o documentário: enquanto produtor e impulsionador do chamado ``movimento documentarista britânico'' e através de textos em que proclamava as potencialidades do documentário. Com estas duas frentes, Grierson criou um conjunto de pressupostos estáveis. Ainda assim, este movimento teve o mérito de não ter promovido um certo desleixo estético para daí reclamar uma maior proximidade com a realidade.
O conjunto de normas estéticas (no caso, nos filmes deste movimento o uso da voz off ou voice over é um dos recursos marcantes) têm uma ligação direta com o modo como cada autor entende a função das suas obras. O movimento documentarista britânico pretendia registrar o presente e não o passado e dirigir-se diretamente ao espectador. A Escola de Grierson sentia que a história estava a acontecer ``aqui e agora'' e os seus filmes faziam parte da situação social, econômica, cultural e política da época.
Para Grierson a vida devia ser passada para o ecrã de uma forma realista e jornalística, o que não quer dizer que, para ele, os aspectos estéticos não fossem importantes. De facto, Grierson pensava o documentário como um objeto artístico, poético – o documentário seria, assim, um gênero de categoria superior, visto que utiliza a criatividade para trabalhar material recolhido in loco. Ou seja, a aproximação do espectador à realidade passaria, não só pela razão, mas também pelo sentimento.
Grierson acreditava no papel pedagógico e positivo da propaganda – não a propaganda fascista ou nazi, mas a propaganda que promovesse a democracia. E o documentário era o melhor meio para veicular a mensagem de cidadania.
Desafiando a indústria fílmica ‘hollywoodesca’, Grierson procurava, então, demonstrar que o cinema podia se servir da vida quotidiana como temática base e ser muito mais interessante em termos sociais e artísticos.
Fontes:
https://filmow.com/drifters-t14518/
http://www.mnemocine.com.br/aruanda/grierson.htm
http://www.historiasdecinema.com/2013/11/movimento-do-filme-documentario-britanico-1919-1939/
http://www.bocc.ubi.pt/pag/penafria-manuela-filme-documentario-debate.html
http://papadocspt.blogspot.com.br/2009/12/john-grierson.html
http://www.bocc.ubi.pt/pag/penafria-manuela-filme-documentario-debate.html
Drifters (1929), que julgamos ser o único filme realizado e montado por Grierson - a partir dessa data foi sempre produtor - tem como tema a pesca do arenque no Mar do Norte. Uma pequena vila em Shetlands é o local de onde as suas personagens partem para a pesca. Não podemos dizer que se trata de um filme apenas sobre os pescadores o seu trabalho é, também, um filme sobre o mar. Neste filme que podemos dividir em 3 partes (ou sequências): partida para o mar; pesca e tempestade no mar; regresso e venda do peixe, a maior parte dos seus planos são grandes planos ou planos aproximados, esta intimididade com o trabalho dos pescadores (apenas alguns planos de rosto surgem em todo o filme, em especial quando se aproxima a tempestade e na venda de peixe) não serve apenas para mostrar as dificuldades e a dureza da pescaria, consegue colocar o trabalho enquanto valor maior desses homens. Depois de lançarem as redes, cai a noite. O que em muitos filmes seria a simples passagem da noite para o dia, aqui, enquanto os pescadores descansam, vemos o que se passa debaixo de água. Os peixes-cão e congros rondam as redes para caçar outros peixes. Ao longo desta cena, Grierson dá especial destaque às redes, o recurso a um plano anterior é sintomático: à superfície da água a rede tem um comprimento que se confunde com o próprio horizonte, as redes serão pois quase infinitas, pelo que se garante boa pescaria, para além disso fomos informados anteriormente que foram lançadas ao mar 2 milhas de rede. A sobreposição de imagens é um recurso que se destaca. Logo no início, ao sobrepor planos das máquinas do navio com o homem que lança carvão na fornalha, interligados com planos do navio a avançar em direcção ao mar alto, fica claro que o esforço e a determinação (e o uso da maquinaria, da ``industrialização'') conseguem romper a força do mar. Num outro momento, quase no final do filme é tocante a sobreposição das ondas do mar com as pessoas que circulam no Porto de Yarmouth para comprar peixe. Apesar da força das ondas, o mercado de venda de peixe faz a sua função enviando a mercadoria para o resto do mundo. Uma montagem a vários ritmos (planos mais longos no início e planos de menor duração no momento da tempestade; muito em consonância com o ritmo da montagem soviética dos anos 20) e inter-títulos5 que informam sobre a pesca em curso salientando os principais momentos desse trabalho ou pormenores relacionados com a pesca (por exemplo, após o inter-título 12 - nota de rodapé 4 - surge um plano em que a linha da rede balança à superfície da água serpenteando o seu caminho em direcção ao horizonte), não poderão deixar o espectador indiferente. O espectador é guiado pelas imagens e, em especial, pelos inter-títulos, desde uma pequena vila até ao resto do mundo. O trabalho de uma pequena vila, a pesca de arenque, é colocada numa posição de superioridade ficando implícitos os benefícios de ser produtora e o resto do mundo necessitar dessa sua produção.
A partir desse seu filme, Grierson defendeu duplamente o documentário: enquanto produtor e impulsionador do chamado ``movimento documentarista britânico'' e através de textos em que proclamava as potencialidades do documentário. Com estas duas frentes, Grierson criou um conjunto de pressupostos estáveis. Ainda assim, este movimento teve o mérito de não ter promovido um certo desleixo estético para daí reclamar uma maior proximidade com a realidade.
O conjunto de normas estéticas (no caso, nos filmes deste movimento o uso da voz off ou voice over é um dos recursos marcantes) têm uma ligação direta com o modo como cada autor entende a função das suas obras. O movimento documentarista britânico pretendia registrar o presente e não o passado e dirigir-se diretamente ao espectador. A Escola de Grierson sentia que a história estava a acontecer ``aqui e agora'' e os seus filmes faziam parte da situação social, econômica, cultural e política da época.
Para Grierson a vida devia ser passada para o ecrã de uma forma realista e jornalística, o que não quer dizer que, para ele, os aspectos estéticos não fossem importantes. De facto, Grierson pensava o documentário como um objeto artístico, poético – o documentário seria, assim, um gênero de categoria superior, visto que utiliza a criatividade para trabalhar material recolhido in loco. Ou seja, a aproximação do espectador à realidade passaria, não só pela razão, mas também pelo sentimento.
Grierson acreditava no papel pedagógico e positivo da propaganda – não a propaganda fascista ou nazi, mas a propaganda que promovesse a democracia. E o documentário era o melhor meio para veicular a mensagem de cidadania.
Desafiando a indústria fílmica ‘hollywoodesca’, Grierson procurava, então, demonstrar que o cinema podia se servir da vida quotidiana como temática base e ser muito mais interessante em termos sociais e artísticos.
Fontes:
https://filmow.com/drifters-t14518/
http://www.mnemocine.com.br/aruanda/grierson.htm
http://www.historiasdecinema.com/2013/11/movimento-do-filme-documentario-britanico-1919-1939/
http://www.bocc.ubi.pt/pag/penafria-manuela-filme-documentario-debate.html
http://papadocspt.blogspot.com.br/2009/12/john-grierson.html
http://www.bocc.ubi.pt/pag/penafria-manuela-filme-documentario-debate.html
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