FICHA TÉCNICA
Título original: Chelovek s kino-apparatom
Ano de lançamento: 1929
Direção: Dziga Vertov
Produção: Não divulgado
Roteiro: Dziga Vertov
Duração: 68 minutos
Elenco: Mikhail Kaufman (Cinegrafista)
Nota: 8.0
Texto Base:
Dziga Vertov, um dos mais influentes cineastas do mundo, foi o criador de várias teorias cinematográficas. Uma das mais famosas é a do cinema-olho ou cinema-verdade
(Kino Pravda), na qual propõe filmar apenas a “verdadeira realidade”,
com a câmera representando o olho do homem, daí o nome da teoria. Vertov
queria registrar em filme, de maneira distanciada, as reações
espontâneas das pessoas, mas não apenas isso: era preciso filmar o
próprio cineasta, para que se chegasse a uma verdade absoluta, através
da montagem e do confronto das imagens.
Munido dessas informações, pode-se afirmar com segurança que Um Homem com Uma Câmera
é a experiência prática para a teoria criada por Vertov. Aqui, a
palavra “experiência” ganha mais importância, pois ela é usada pelo
próprio cineasta para descrever o documentário.
Acredito que tenha sido usada não só porque o filme era um teste para
comprovar os pensamentos do cineasta, mas também para sedimentar o
próprio gênero de documentário em meio a tantas obras de ficção, que
naquela época já eram produzidas em grande escala.
O filme procura intercalar os mais variados acontecimentos de cidades da Rússia
da década de 20 (que vão desde a esfera pública como a prática de
esportes, trânsito, trabalho, até às mais privadas, como partos) com
imagens do “homem com uma câmera”, que registra estes mesmos fatos. No
entanto, o filme não se limita a mostrar os fatos como foram
inicialmente capturados pela câmera. Vertov faz uso de várias técnicas
de edição para chegar à “verdadeira realidade”. Esses recursos vão desde
os mais simples, como uma colagem de várias imagens diferentes em um
curto espaço de tempo (ou seja, vários cortes bruscos acontecem, dando a
impressão de rapidez) até os mais complexos para a época, como a
sobreposição de imagens.
Um Homem com Uma Câmera é um filme
revolucionário e importantíssimo para a época, não só pelos truques de
montagem acima mencionados, que são usados pelos cineastas e editores
até hoje, mas também por ser um dos primeiros exemplares de documentário
existentes amparados por teoria de representação da realidade.
“Representação”, também,
é uma palavra-chave. Acredito que a realidade é algo impossível de se
captar, por ser um complexo elemento social e natural e que não pode ser
simplificado, de maneira alguma, por uma sucessão de celulóides. O que é
possível fazer é realizar uma representação da realidade, ou seja, o
cineasta consegue apenas filmar a sua visão sobre ela. Foi isso que
Vertov conseguiu em Um Homem com uma Câmera na qual apresentou uma
abordagem multifacetada e caleidoscópica da sociedade russa dos anos 20.
Além disso, o cineasta deixa claro que o filme é apenas uma
interpretação do mundo em que ele vivia ao colocar sempre trechos do
próprio filme sendo montado, de fotogramas parados para alguns segundos
para só depois se movimentarem., a icônica cena inicial.. É como se
Vertov estivesse dizendo: “isto é apenas uma ilusão, não é o ‘mundo
real’”. Por isso, fica bastante claro que a Rússia do filme é uma Rússia
criada totalmente por Vertov. Da mesma forma, um outro cineasta poderia
muito bem criar um retrato bem mais comedido e realista desse mesmo
grupo de pessoas, dessa mesma época. Talvez, a representação seja a
“verdadeira realidade” a que Vertov se referia.
Mas o filme de Vertov não chama atenção
apenas pelo seu valor histórico e teórico: o filme consegue se manter
envolvente mesmo nos dias atuais, dado o seu apuro técnico. Algumas das
imagens são belíssimas, como as dos carros transitando nas ruas. Além
disso, a trilha sonora é altamente eficaz e ajuda o espectador a se
inserir naquela realidade tão distante de nós (tanto temporal quanto
espacialmente) e apreciar cada acontecimento registrado na tela. É um
filme curto (tem apenas 68 minutos), mas sua duração é ideal para
demonstrar as ideias de Vertov e não deixar o espectador muito cansado
com a sucessão rápida de imagens.
OBS: Este é certamente um dos filmes que mais tem títulos diferentes em português. Você pode encontrá-lo como O Homem da Câmera, O Homem com a Câmera, além do título que eu utilizei, Um Homem com Uma Câmera.
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