quarta-feira, 6 de junho de 2018

A Realidade deriva da Cultura, da teia de significados que damos ao mundo.










Se traduzirmos "teia de significados" por Cultura, a partir de Geertz, diríamos que a REALIDADE deriva da Cultura, logo a realidade deriva da teia de significados que formata nossa cultura e nosso mundo.
Realidade deriva da Cultura e se tomarmos a Cultura como "uma teia de significados", logo a Realidade deriva da teia de significados que damos ao mundo. O mundo é conjunto de todas as coisas que sabemos que existe e mais do que isso, damos um nome a cada uma dessas coisas para podermos darmos significados a todas elas.
Para Berger e Luckmann os universos simbólicos são passíveis de cristalização segundo processos de “objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento”. Esses processos de cristalização levam a um mundo de produtos teóricos que, porém, não perde suas raízes no mundo humano de tal sorte que os universos simbólicos se definem como “produtos sociais que têm uma história”.
Desse modo, se quisermos entender o significado desses produtos temos de entender a história da sua produção, em termos de objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento. A “função nômica”(função de fazer observar as rubricas e normas dos procedimentos regidos por símbolos, como procedimentos de tipo litúrgicos) do universo simbólico é que “põe cada coisa em seu lugar certo”, permitindo ao indivíduo “retornar à realidade da vida cotidiana”.
Trata-se de saber “se o homem ainda conserva a noção de que, embora objetivado, o mundo social foi feito pelos homens e, portanto, pode ser refeito por eles”. É a reificação como grau extremo do processo de objetivação, extremo esse no qual “o mundo objetivado perde a inteligibilidade e se fixa como uma faticidade inerte. Os significados humanos são tidos, então, como “produtos da natureza das coisas”.
Quer dizer, a reificação é uma modalidade da consciência, de tal sorte que, mesmo apreendendo o mundo em termos reificados, o homem continua a produzí-lo - paradoxalmente, o homem é capaz de produzir uma realidade que o nega. Em consequência a análise visando a integração reflexiva nota que “a reificação é possível no nível pré-teórico e no nível teórico da consciência”: “os sistemas teóricos complexos podem ser descritos como reificações, embora presumivelmente tenham suas raízes em reificações pré-teóricas” -“a reificação existe na consciência do homem da rua” e não deve ser limitada às construções dos intelectuais.

Fica bem nítido no pensamento de Geertz a ideia de dimensão, tomada como esferas, ou camadas (níveis), pois para ele o homem é um ser composto por camadas, níveis. Cada um delas superposta as outras inferiores e cada uma delas completas, concêntricas e irredutíveis em si mesma, cada dimensão se apresenta como uma realidade plena em si mesma e o conjunto concentro de todas elas também se apresenta como uma realidade plena e continua em si mesma. Logo podemos inferir que a realidade depende de que dimensão o ser vive. Assim retirando-se a realidade ou dimensão cultura se encontram  outras regularidades estruturais e funcionais da organização social da realidade imediatamente a baixo. Retirando-se a realidade social, abaixo teríamos os fatores psicológicos, as necessidades básicas. E tirando-se isso teríamos os fundamentos biológicos: neurológicos, fisiológicos e anatômicas, numa estratigrafia bem nítida.
 
Resumo de a Interpretação Das Culturas de Clifford Geertz. In: http://resumos.netsaber.com.br/resumo-44813/a-interpretacao-das-culturas


Geertz recupera o conceito de Max Weber, que afirma que o homem é um ser amarrado em teias de significados que ele mesmo teceu. A cultura é, portanto, uma realidade interpretativa, e apreende-la em buscar seus significados. O comportamento e a conduta são sempre ações simbólicas. O fluxo que vai da conduta individual ao comportamento coletivo (ação social) faz com que as formas culturais se articulem. O significado da conduta emerge do papel que desempenham socialmente. A cultura é pública porque o significado o é, ninguém se apropria de um significado como se fosse exclusivamente seu. No estudo da cultura, os significantes não são sintomas ou conjunto de sintomas, mas atos simbólicos e o objetivo não é a terapia, mas a análise do discurso social.

No âmbito de seus estudos, Geertz percebe que a cultura é uma estrutura estruturante na organização das sociedades, ele indica que esta pode ser definida como um sistema cultural de organização (e controle) das coletividades, sistema este pautado em um mecanismo de apreensão do poder por meio da posse dos signos de poder (por parte dos que controlam as altas esferas sociais) e da submissão dos membros de uma comunidade política a tais signos. Entenda-se aqui esferas como dimensões e dimensões como esferas, isto para uma análise mais “concreta” da realidade. Para que esta submissão ocorra, a cultura é a mediação entre o poder e o objeto de sua ação, isto é possível, pelo fato de que, segundo Geertz, na Antropologia o conceito de cultura sofre uma revisão e passa a ser visto como um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos e materializado em comportamentos, o que se entende costumeiramente em Antropologia com Padrões de Cultura, muito bem definido por Ruth Benedict em sua obra Padrões de Cultura. Complementar a esta noção, está a idéia de que as imagens públicas do comportamento (cultural) são vistas como os mais eficazes elementos do controle social. Deste modo, a cultura é em parte controladora do comportamento em sociedade e, ao mesmo tempo criadora e recriadora deste comportamento, devido ao seu conteúdo ideológico, impossível de ser esvaziado de significado, já que toda cultura possui uma ideologia que o configura, pois para o autor a ideologia é apresentada como a dimensão norteadora/justificativa do “arbitrário” cultural (os princípios que são aceitos pelo senso comum como indiscutíveis, e que definem o que é valorizado ou desvalorizado em termos comportamentais em determinado grupo humano), sendo este arbitrário cultural o elemento mediador da apreensão dos signos e significados presentes em uma cultura.

Texto Base: Resumo 5 - O que é Realidade, de João Francisco Duarte Junior. In: http://www.descansoploucura.top/2014/10/resumo-4-o-que-e-realidade-de-joao.html

Texto Base 2: Resenha A Construção Social da Realidade. In: www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/viewFile/30243/21587

Texto Base 3: A Interpretação Das Culturas. In: http://resumos.netsaber.com.br/resumo-44813/a-interpretacao-das-culturas



I “CAI NA REAL”
Quando se trata de abandonar o irreal, de voltar-se ao mundo sólido e concreto, caímos na Realidade, em outras palavras, colocamos os pés no chão. Existe, no entanto, uma realidade que pode ser captada pela nossa percepção e outra que pode ser captada de forma mais física, isto é, de maneira mais concreta e objetiva. Em cada maneira de coexistência uma nova realidade é vivida.Não é correto falar de Realidade, mas necessariamente de Realidades. Pois a concepção de realidade depende das formas de consciência que ocorrem diante dos objetos. Neste sentido, nota-se que o número de possibilidades do Real aumenta gradativamente, à medida que se analisam os fatos sociais. A Realidade não é algo dado. Ela é construída, forjada no encontro incessante entre os sujeitos humanos e o mundo.Para entendermos melhor a realidade é preciso que também entendamos a ideia de verdade, não esquecendo, principalmente, que a realidade cotidiana é aquela que mais nos influencia.

II- “NO PRINCÍPIO ERA A PALAVRA”
A Palavra, a Linguagem é fator essencial para diferir o homem dos demais seres e lhe conceder a humanidade. Pois, o animal está preso ao aqui e agora, já o ser humano, é capaz de “reviver” o passado, usufruir do presente e planejar o futuro.
É bom saber que somos mais que corpo, nós somos também consciência.
A Nominação faz associar o objeto a sua compreensão.
A construção da realidade passa necessariamente pelo sistema linguístico exercido na comunidade. É evidente que o ser humano encontra-se envolvido num mundo simbólico e o real será sempre um produto da dialética, sendo os símbolos os grandes edificadores deste mundo e consequentemente da construção da Realidade.

III- “A EDIFICAÇÃO DA REALIDADE”
Consideramos a vida cotidiana como sendo a Realidade por excelência. Porém, essa consideração advém de uma interpretação que fazemos, ainda em caráter prático. Por que a realidade não é simplesmente construída, mas socialmente edificada. São as diversas sociedades quem edificam suas realidades.
Já as Instituições têm papel preponderante em reforçar a edificação da realidade. E é através delas que a realidade passa a exercer uma coerção sobre a consciência dos indivíduos. Mais uma vez entra a linguagem como importante fator na legitimação das instituições. Tendo os símbolos função especial na legitimação das instituições.
Além da linguagem (os símbolos) e das instituições, contribui também com a edificação da realidade, a Ideologia.

IV- “A MANUTENÇÃO DA REALIDADE”
Sozinho ninguém constrói uma nova realidade. E os seus mecanismos de manutenção podem ser terapêuticos e aniquiladores. Terapêuticos quando fazem com que o sujeito em questão volte a enxergar a realidade tal qual a coletividade; e Aniquiladores quando trata daqueles que divergem de certa realidade, estando fora dela.A manutenção consiste em assegurar que todos os membros da sociedade compartilhem da mesma interpretação da realidade. Trata-se, portanto, de um controle social.Individualmente, a manutenção pode ser feita num nível rotineiro ou num nível crítico.O rotineiro assegura que nos movimentemos sem mudanças bruscas, havendo a interação com os outros.
O crítico acontece quando nos deparamos com um fato inusitado e inoportuno, que faz com que nos sintamos obrigados a indagar sobre a realidade que nos cerca.

V- “A APRENDIZAGEM DA REALIDADE”
O processo de aprendizagem da realidade é denominado de socialização. Esta pode ser dividida numa fase primária ou numa fase secundária.A primária ocorre, segundo o autor, no seio da família, inicialmente com os primeiros sintomas de emoções e com a aquisição da linguagem. Ela alicerça todos os demais conhecimentos.É secundária diz respeito a tudo que vem após a primária e que introduz o indivíduo noutras realidades. Esta se dá de maneira mais racional e planificada. Nesta fase a realidade é mais frágil e fugaz e pode sofrer desestruturações.

VI- “A REALIDADE CIENTÍFICA”
Tudo que não é cientificamente comprovado não merece credibilidade, eis umas das facetas do mito da ciência.É necessário, então, desmistificar a compreensão que temos sobre a realidade apresentada pela ciência e seus métodos.
Pois, a ciência constrói o real de maneira particular, são, portanto, verdades específicas.
A realidade mostrada pela ciência é uma realidade de segunda ordem, assegura o autor, pois se apoia nos acontecimentos cotidianos, que seriam, seguindo este raciocínio, verdades de primeira ordem.

VII – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BERGER, Peter L. LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004.
DUARTE JUNIOR, João Francisco. O que é Realidade. Editora Brasiliense: São Paulo, 1994 (Coleção Primeiros Passos).
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro:LTC,1989.




Resenha de "A Construção Social da Realidade"


No seu Tratado de Sociologia do Conhecimento intitulado “A Construção Social da Realidade” (op.cit,pp.124/132), Peter Berger e Thomas Luckmann desenvolvem uma análise dosprocessos de legitimação pelos universos simbólicosque toma por base a intersubjetividade e a biografia individual. Abordam o problema da transmissão a uma nova geração das “objetivações da ordem institucional”, assim tornada histórica. Quer dizer, a legitimação é uma questão de tradição teórica, incluindo as explicações e justificações.
O esquema analítico desses autores afirma a precedência do conhecimento sobre os valores, e se aplica a partir da distinção de quatro níveis. Inicialmente, a legitimação “incipiente” acha-se presente “logo que um sistema de objetivações lingüísticas da experiência humana é transmitido”. É o primeiro nível, que inclui “todas as afirmações tradicionais simples do tipo ‘é assim que se faz as coisas”. É o nível pré-teórico e constitui o fundamento do conhecimento evidente “sobre o qual devem repousar todas as ‘teorias subseqüentes’ e, inversamente, nível ao qual estas devem atingir para serem incorporadas à tradição”.
O segundo nível contém proposições teóricas em forma rudimentar, incluindo esquemas explicativos que relacionam “conjuntos de significações objetivas” e que “são altamente pragmáticos”, como “os provérbios, as máximas morais e os adágios da sabedoria” - ademais das lendas e histórias populares.
O terceiro nível já compreende “teorias explícitas”: um “corpo diferenciado de conhecimentos” oferecendo um “quadro de referência” amplo para a “conduta institucionalizada”. Já se nota a função de “pessoal especializado” para a transmissão desse conhecimento, pelo que o processo de legitimação começa a atingir “um grau de autonomia em relação às instituições legitimadas”, podendo gerar “seus próprios procedimentos institucionais”.
É somente no quarto nível que se impõem os universos simbólicos como tais, isto é, como “corpos de tradição teórica que (a)-integram diferentes áreas de significação”, (b)-abrangem a ordem institucional em “processo de significação”, (c)-se referem a realidades diferentes das pertencentes à experiência da vida cotidiana”, (d)-realizam o grau mais alto de integração “de particulares áreas de significado” e de “processos separados de conduta institucionalizada”. Quer dizer, “todos os setores da ordem institucional acham-se integrados num quadro de referência global”. Desse modo, a “integração reflexiva de processos institucionais distintos alcança sua plena realização”; “todas as teorias legitimadoras menores são consideradas como perspectivas especiais”; “os papéis institucionais tornam-se modos de participação”.
Para Berger e Luckmann os universos simbólicos são passíveis de cristalização segundo processos de “objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento”. Esses processos de cristalização levam a um mundo de produtos teóricos que, porém, não perde suas raízes no mundo humano de tal sorte que os universos simbólicos se definem como “produtos sociais que têm uma história”.
Desse modo, se quisermos entender o significado desses produtos temos de entender a história da sua produção, em termos de objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento. A “função nômica”(função de fazer observar as rubricas e normas dos procedimentos regidos por símbolos, como procedimentos de tipo litúrgicos) do universo simbólico é que “põe cada coisa em seu lugar certo”, permitindo ao indivíduo “retornar à realidade da vida cotidiana”.
A análise dos processos de legitimação por Berger e Luckmann tem em conta que, nas objetivações em que as teorias são observadas, surge a questão de saber “até que ponto uma ordem institucional, ou alguma parte dela é apreendida como uma faticidade não humana”, e que essa “é a questão da reificação da realidade social”.
Trata-se de saber “se o homem ainda conserva a noção de que, embora objetivado, o mundo social foi feito pelos homens e, portanto, pode ser refeito por eles”. É a reificação como grau extremo do processo de objetivação, extremo esse no qual “o mundo objetivado perde a inteligibilidade e se fixa como uma faticidade inerte. Os significados humanos são tidos, então, como “produtos da natureza das coisas”.
Quer dizer, a reificação é uma modalidade da consciência, de tal sorte que, mesmo apreendendo o mundo em termos reificados, o homem continua a produzí-lo - paradoxalmente, o homem é capaz de produzir uma realidade que o nega. Em conseqüência a análise visando a integração reflexiva nota que “a reificação é possível no nível pré-teórico e no nível teórico da consciência”: “os sistemas teóricos complexos podem ser descritos como reificações, embora presumivelmente tenham suas raízes em reificações pré-teóricas” -“a reificação existe na consciência do homem da rua” e não deve ser limitada às construções dos intelectuais.
Da mesma maneira, seria “um engano considerar a reificação como uma perversão de uma apreensão do mundo social originariamente não reificada”: “a apreensão original do mundo social é consideravelmente reificada. Em contrapartida, prosseguem Berger e Luckmann, a apreensão da própria reificação como modalidade da consciência “depende de uma desreificação ao menos relativa, exigência sóciológica esta que “é um acontecimento comparativamente tardio”.
Completando seu esquema analítico, os autores mencionados notam que as instituições podem ser apreendidas em termos reificados quando se lhes outorga “um status ontológico independente da atividade e da significação humanas”. Quer dizer, através da reificação “o mundo das instituições parece fundir-se com o mundo da natureza”. Da mesma maneira, os papéis sociais podem ser reificados, de tal sorte que “o setor da autoconsciência que foi objetivado num papel é então também apreendido como uma fatalidade inevitável, podendo o indivíduo negar qualquer responsabilidade”.
Quer dizer, “a reificação dos papéis estreita a distância subjetiva que o indivíduo pode estabelecer entre si e o papel que desempenha”. E os autores completam: “a distância implicada em toda a objetivação mantem-se, evidentemente, mas a distância causada pela desidentificação vai se reduzindo até o ponto de desaparecer”. A conclusão é de que a análise da reificação serve de corretivo padrão para as tendências reificadoras do pensamento teórico em geral, e do pensamento sociológico em particular.



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