As Ideias de Estrutura e Função em Antropologia
por Ojr. Bentes
Texto base: A recepção das ideias de função, estrutura e sistema.
Ao
mesmo tempo que ocorria o choque da revolução behaviorista, desenrolava-se,
nos domínios da ciência política, o processo de recepção das ideias de função,
estrutura e de sistema,
principalmente a partir das teorias gerais da antropologia e da sociologia.
Aliás,
a ideia de função foi, desde sempre, utilizada na matemática e na biologia.
Na matemática, entendida como uma relação
entre grandezas variáveis que mantêm entre si uma certa dependência. Na
biologia, por seu lado, diz-se que um corpo é uma totalidade porque resulta da
unidade de diversas funções, considerando-se estas como as operações
mediante as quais uma parte ou um processo do organismo contribui para a
conservação do organismo total [1].
Não
admira, pois, que o organicismo sociológico, entendendo a sociedade como um
organismo, tenha começado a falar em estruturas, ou em órgãos, e funções,
como aconteceu sobretudo com Herbert
Spencer [2].
Este último reconhece que os organismos sociais quanto mais crescem em massa,
mais se tornam complexos, ficando as respectivas partes cada vez mais mutuamente
dependentes [3].
Assim, essa passagem da simplicidade
para a complexidade no corpo político
geraria uma functional dependence of parts,
com centros coordenadores de uma espécie de sistema nervoso, destinados
a receive infomation and convey commands
[4].
É que os organismos sociais seriam algo mais que a simples agregação
da companionship e que a necessidade
de acção combinada contra inimigos da multidão, dado destinarem-se a facilitar
a sustentação pela mútua ajuda-cooperação para melhor satisfação do corpo
e eventualmente do espírito [5].
Segue-se
Durkheim que utilizou a palavra função
para substituir as de fins e objectivos, salientando que a
correspondência entre um facto social e as
necessidades gerais do organismo social é independente do carácter intencional
ou não deste facto. Assim, a função é entendida como o fim objectivo de uma instituição social, distinto da vontade
subjectiva dos indivíduos [6].
Contudo,
a aplicação do conceito de função no domínio das ciências sociais receberá
um profundo incremento com o trabalho dos antropólogos evolucionistas como Bronislaw
Malinowski (1884-1942) e Alfred
Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955) [7]
que estão, respectivamente, na base do funcionalismo absoluto, na teoria que pretende fornecer uma explicação
completa e coerente de um dado objecto social, deduzindo-o das contribuições
que esta dá para a satisfação de um certo número de necessidades sociais, e
do funcionalismo estrutural, ou
relativo, a teoria que utiliza o funcionalismo como mero paradigma formal que se
propõe encarar os objectos sociais a partir das relações de contribuição
que os ligam entre si e elaborar, nesta base, um certo número de propostas
explicativas que não são vistas como necessárias nem exaustivas [8].
A
partir de então, dizer função passa a significar dizer satisfação de uma necessidade e o todo social é visto como uma totalidade
orgânica, onde cada elemento tem uma
tarefa a desempenhar dentro de uma aparelhagem
instrumental, conforme as palavras de Malinowski
[9],
autor que enumera uma série de princípios
gerais que unem os seres humanos, os chamados princípios
de integração. Em primeiro lugar, surge a reprodução, geradora de
instituições como a família e o clã; em segundo lugar, vem o território, a
comunidade de interesses devido à propinquidade, contiguidade e possibilidade
de cooperação, gerando os grupos de
vizinhança, entre os quais inclui os munícipios, a horda nómada, a aldeia
e a cidade; em terceiro lugar, o princípio da integração fisiológica, as distinções
devidas a sexo, idade e estigmas ou sintomas corporais; em quarto, as associações
voluntárias; em quinto, o princípio da integração ocupacional e
profissional, isto é, a organização de seres humanos por suas
actividades especializadas
para fim de interesse comum e mais plena execução de suas capacidades
especiais; em sexto lugar, a classe ou
condição, destacando nestas os estados medievais, as castas e as
estratificações por etnia; em sétimo e último lugar coloca a assimilação,
a integração por unidade de cultura ou por poder político, que tem a ver com
a nação e o Estado, respectivamente. Refira-se que a tribo de Malinowski,
segundo as suas próprias palavras, consiste
num grupo de pessoas que têm a mesma tradição, o mesmo direito consuetudinário
e as mesmas técnicas e igualmente a mesma organização de tipos menores, tais
como a família, a municipalidade, a corporação ocupacional ou a equipa económica.
Refere mesmo que o índice mais característico de unidade tribal lhe parece ser
a comunhão de linguagem, pois uma tradição
comum de habilidades e conhecimento, de costumes e crenças, apenas pode ser
levada avante conjuntamente por pessoas que possuam a mesma língua [10].
Já
para A. R. Radcliffe-Brown, a função
surge como o papel desempenhado na vida social total, a contribuição dada por
um determinado elemento para a manutenção da estrutura. O sistema é entendido
como mera unidade funcional e a
estrutura, concebida como um simples
acordo entre pessoas que têm entre si relações institucionalmente controladas
e definidas [11].
E da soma da ideia de sistema com a ideia de estrutura é que resulta a ideia de
processo da vida social que, em
si mesmo, consiste num imenso número de acções e interacções de seres
humanos agindo como indivíduos ou em combinações ou grupos (...)
Os componentes ou unidades da estrutura social são pessoas, e uma pessoa é um
ser humano, considerado não como um organismo, mas ocupando uma posição na
estrutura social [12].
[1] Cfr.
Jean-Pierre Cot
[2] Ver
Óscar Soares Barata
[3] Herbert
Spencer, The Man Versus the
State, 1884, segundo a edição de Erick Mack, com introdução de
Albert Jay Nock, Indianapolis, Liberty Classics, 1982, p. 433.
[4] Idem,
pp. 393 e 432.
[5] Herbert
Spencer, The Principles of
Ethics, introdução de Tibor R. Machan, II, Indianapolis, Liberty
Classics, 1978, p. 204.
[6] Cfr.
Cot e Mounier,
op. cit., p. 78.
[7] Ver
José Júlio Gonçalves
[8] Bertrand
Badie
[9] Bronislaw
Malinowski, Uma Teoria Científica
da Cultura, trad. port., Rio de Janeiro, Zahar, 1962.
[10] Idem,
pp. 157 segs..
[11] A.
R. Radcliffe-Brown, Structure
et Fonction dans la Societé Primitive
[1952], trad. fr., Paris, Maspero, p. 11.
[12] Idem,
pp. 9-10. Sobre a matéria, ver Maurice
Duverger, Sociologia da Política.
Elementos de Ciência Política, trad. port., Coimbra, Livraria
Almedina, 1983, pp. 240 e segs
Lévi-Strauss é o principal expoente da corrente estruturalista na Antropologia.
Para fundá-la, Lévi-Strauss buscou elementos das ciências que, no seu
entender, haviam feito avanços significativos no desenvolvimento de um
pensamento propriamente objetivo. Sua maior inspiração foi a Lingüística Estruturalista da qual faz constante referência, por exemplo, a Jakobson.
Ao apropriar-se do pensamento estruturalista para aplicá-lo à
antropologia, Lévi-Strauss pretende chegar ao modus operandi do espírito
humano. Deve haver, no seu entender, elementos universais na atividade
do espírito humano entendidos como partes irredutíveis e suspensas em
relação ao tempo que perpassariam todo modo de pensar dos seres humanos.
Nesta linha de pensamento, Lévi-Strauss chega ao par de oposições
como elemento fundamental do espírito: todo pensamento humano opera
através de pares de oposição. Para defender esta sua tese, Lévi-Strauss
analisa milhares de mitos nas mais variadas sociedades humanas
encontrando nelas modos de construção análogas em todas.
Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da linguistica, por Ferdinand de Saussure, denominado Estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e principalmente Marcel Mauss.
A ANALOGIA MAIS COMUM PARA ESTRUTURA
Estrutura de um edifício
Estrutura e Função em Teoria Musical
Exemplo: Estrutura da Nota Sol.
Estruturas Possíveis para a o acorde de Sol.
Equivalente no Piano.
Funções das notas musicais.
Forma e Função em Linguística. In: http://ptdocz.com/doc/549617/forma-e-fun%C3%A7%C3%A3o-em-lingu%C3%ADstica
Linguística Aprofundamentos. In: http://slideplayer.com.br/slide/8100766/
Morfologia e Sintaxe.
A forma (estrutura) determina a função sintática, a priore.
ESTRUTURA DA ORAÇÃO
Linguística Aprofundamentos. In: http://slideplayer.com.br/slide/8100766/
Nenhum comentário:
Postar um comentário