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Claude
Lévi-Strauss
(Bruxelas,
28 de novembro
de 1908 — Paris,
30 de outubro
de 2009) foi um
antropólogo,
professor e
filósofo
belga. É considerado fundador da antropologia
estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes
intelectuais do século XX, porém suas ideias são muito diferentes
do pensamento da época em que viveu, rompem com a ideia de que
indíos são somente indíos, não concordava com a divisão em
civilizados e selvagens ou a divisão em superiores e inferiores,
além do possuir um maior pensar ambientalista radical, por mais que
sua teoria seja interpretada com base aos olhares de intelectuais com
o pensamento marxista pós-Guerra
Fria do século XXI, ideias assim só apareceram a partir do
final da década de 1960 com o aparecimento da contracultura marxista
cultural e ambientalista radical, embora as obras de Lévi-Strauss
vejam os índios do Cerrado de forma "eurocêntrica" ou
"colonialista" em certo ponto.[1][2][3]
Professor
honorário do Collège
de France, ali ocupou a cátedra de antropologia
social de 1959 a 1982. Foi também membro da Academia
Francesa - o primeiro a atingir os 100 anos de idade.
Desde
seus primeiros trabalhos sobre os índios
do Brasil Central, que estudou em campo, no período de 1935 a
1939, e a publicação de sua tese As
estruturas elementares do parentesco,
em 1949, publicou uma extensa obra, reconhecida internacionalmente.
Dedicou
uma tetralogia, as Mitológicas,
ao estudo dos mitos,
mas publicou também obras que escapam do enquadramento estrito dos
estudos acadêmicos - dentre as quais o famoso Tristes
Trópicos,
publicado em 1955, que o tornou conhecido e apreciado por um vasto
círculo de leitores.
Biografia
Primeiros Anos
Claude
Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas,
de uma família judia de origem alsaciana,
das cercanias de Estrasburgo.
Mas, à época do seu nascimento, seu pai, Raymond Lévi-Strauss - um
pintor retratista, que acabou arruinado pelo advento da fotografia
- tinha um contrato a cumprir na cidade e sua mulher, Emma, estava
prestes a dar à luz. Assim, o pequeno Claude ali passou as primeiras
semanas de vida.
O
avô materno, com quem ele viveu durante a Primeira
Guerra Mundial, era o rabino
da sinagoga de
Versailles.
Seu bisavô, Isaac Strauss, era regente de orquestra na corte - à
época de Luís
Filipe e depois, sob Napoleão
III.[4]
Vida escolar e política
Depois
de concluir a escola primária em Versalhes, instala-se em Paris
para prosseguir seus estudos secundários - primeiro no tradicional
Lycée
Janson-de-Sailly
e depois no Lycée
Condorcet,
um dos melhores colégios de Paris.[5]
No
final dos seus estudos secundários, encontra um jovem socialista
filiado a um partido belga e se liga à esquerda,
familiarizando-se rapidamente com a literatura política que até
então lhe era desconhecida, incluindo Marx.
Torna-se militante da S.F.I.O.,
encarregado de coordenar o grupo de estudos socialistas, tornando-se
depois Secretário Geral dos Estudantes Socialistas.
Início da trajetória acadêmica
Estudou
direito na
Faculdade de Direito de Paris, obtendo sua licença antes de ser
admitido na Sorbonne,
onde se graduou em filosofia
em 1931, com doutorado
em 1948, com a tese As
estruturas elementares do parentesco.
Depois
de passar dois anos ensinando filosofia no Liceu Victor-Duruy de
Mont-de-Marsan
e no liceu de Laon,
o diretor da Escola
Normal Superior de Paris, Célestin Bouglé, por telefone,
convida-o a integrar a missão universitária francesa no Brasil,
como professor de sociologia
da Universidade
de São Paulo. Esse telefonema seria decisivo para o despertar da
vocação etnográfica de Lévi-Strauss, conforme ele próprio iria
declarar mais tarde: "Minha
carreira foi decidida num domingo de outono de 1934, às 9 horas da
manhã, a partir de um telefonema."[6]
Estada no Brasil
ntre
1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada
Universidade de São Paulo, juntamente com os professores integrantes
da missão francesa, entre eles: sua mulher Dinah
Lévi-Strauss, Fernand
Braudel, Jean
Maugüé e Pierre
Monbeig.
Junto com Dina, Strauss também excursionou por regiões centrais do Brasil, como Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro Tristes Trópicos (1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de antropólogo nasceu nessas viagens.
Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contato com os índios, no Rio Tibagi, porém ficou decepcionado ao supor, sem muito conhecimento etnográfico, que "os índios do Tibagi (caingangues) não eram nem verdadeiros índios, nem selvagens" (Lévi-Strauss 1957:160-161).
Junto com Dina, Strauss também excursionou por regiões centrais do Brasil, como Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro Tristes Trópicos (1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de antropólogo nasceu nessas viagens.
Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contato com os índios, no Rio Tibagi, porém ficou decepcionado ao supor, sem muito conhecimento etnográfico, que "os índios do Tibagi (caingangues) não eram nem verdadeiros índios, nem selvagens" (Lévi-Strauss 1957:160-161).
Porém,
ao final do primeiro ano escolar (1935/1936), ao visitar os cadiuéus
na fronteira com o Paraguai
e os bororos no
centro de Mato
Grosso, rendendo-lhe sua primeira exposição em Paris
nas férias de (1936/1937), o que foi fundamental para a entrada de
Lévi-Strauss no meio etnológico francês, conforme admite ele
próprio:[7]
"Eu precisava fazer minhas provas de etnologia, porque não
tinha formação alguma. Graças à expedição de 1936, consegui
créditos do Museu
do Homem e da Pesquisa Científica, ou do que acabaria se
chamando assim. Com esse dinheiro, organizei a expedição
nambiquara."
Em
1938, foi realizada uma expedição até os nambiquaras
no Mato Grosso, com financiamento francês e brasileiro, que deveria
durar um ano. No entanto, durou apenas seis meses - de maio a
novembro do mesmo ano. Além do casal Lévi-Strauss, participaram o
médico e etnólogo francês Jean
Vellard e o antropólogo brasileiro Luiz
de Castro Faria, que aponta os problemas que a missão enfrentou
com os órgãos públicos brasileiros, por contar com o patrocínio
de Paul Rivet,
ligado ao Partido
Socialista francês, e que se tornara persona
non grata
no Brasil porque supostamente teria difamado o país na França.[8]
Já Luis
Grupioni aponta as resistências existentes no SPI
quanto à segurança da missão e a relutância de Lévi-Strauss em
aceitar um fiscal do Conselho de Fiscalização das Expedições
Artísticas e Científicas: "Mais que a possível simpatia
socialista identificada aos membros da expedição, era a perspectiva
de fiscalização e controle de uma expedição estrangeira, o que
teria impedido a concessão da licença." [9]
O
período que passou no Brasil foi fundamental em sua carreira e no
seu crescimento profissional, além de ter despertado em Strauss sua
vocação etnológica. Disse: "Um ano depois da visita aos
Bororo, todas as condições para fazer de mim um etnógrafo estavam
satisfeitas"(1957).
Retorno à França
Após
três anos no Brasil, Lévi-Strauss voltou à França,
reconhecido no meio etnológico. Diz ele, em Tristes
Trópicos:
"Um
ano depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de
mim um etnógrafo estavam satisfeitas."[10]
Seu
livro As
estruturas elementares do parentesco
foi publicado em 1949 e, instantaneamente, consagrou-se como um dos
mais importantes estudos de família
já publicados. O título é uma paráfrase
ao título do livro de Émile
Durkheim, As
formas elementares da vida religiosa.
No
final da década
de 1940 e começo da década seguinte, Lévi-Strauss continuou a
publicar e experimentou considerável sucesso profissional. Em seu
retorno à França ele se envolveu com a administração do CNRS
e do Musée
de l'Homme, até ocupar uma cadeira na quinta seção da École
Pratique des Hautes Études, aquela de 'Ciências Religiosas' que
havia pertencido previamente a Marcel
Mauss e que Lévi-Strauss renomeou para "Religião Comparada
de Povos Não-Letrados".
Apesar
de bem conhecido em círculos acadêmicos, foi apenas em 1955 que
Lévi-Strauss se tornou um dos intelectuais franceses mais conhecidos
ao publicar Tristes
Trópicos,
livro autobiográfico acerca de sua passagem pelo Brasil e contato
com os ameríndios na década
de 1930,
que contém uma visão eurocêntrica,
e até certo ponto colonialista.
Colégio de França
Em
1959 Lévi-Strauss foi nomeado para a cadeira de antropologia
social do Collège
de France.
Por volta desse período publicou Antropologia
estrutural,
uma coleção de ensaios em que oferece tanto exemplos como
manifestos programáticos do estruturalismo. Começou a organizar uma
série de instituições e confrontos entre as visões
existencialista
e estruturalista que iria eventualmente inspirar autores como
Clastres
e Bourdieu.
Foi também eleito doutor
honoris causa
de diversas universidades pelo mundo.
Últimos anos
Apesar
de aposentado, Lévi-Strauss continuava a publicar ocasionalmente
volumes de meditações sobre artes, música e poesia, bem como
reminiscências de seu passado.
Claude
Lévi-Strauss morreu em 30 de outubro de 2009,[11][12]
poucas semanas antes da data em que faria 101 anos.[13]
A morte só foi anunciada quatro dias depois.[13]
O
presidente da França Nicolas
Sarkozy o definiu como "um dos maiores etnólogos de todos
os tempos".[14]
Bernard
Kouchner, o ministro de Assuntos Exteriores francês, afirmou que
Lévi-Strauss "quebrou com uma visão etnocêntrica da história
e humanidade […] Em um tempo em que tentamos dar sentido a ideia de
globalização, construir um mundo mais justo e humano, eu gostaria
que o eco universal de Claude Lévi-Strauss ressonasse mais
forte".[15]
O jornal The
Daily Telegraph
afirmou no obituário do antropológo que Lévi-Strauss foi "uma
das influências pós-guerra dominantes na vida intelectual francesa
e o principal expoente do Estruturalismo
nas Ciências
sociais".[16]
A secretária permanente da Académie
Française
Hélène
Carrère d'Encausse disse: "Ele era um pensador, um filósofo
[…] Nós nunca encontraremos outro como ele".[17]
Principais Citações:
- "O antropólogo é o astrônomo das ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para as configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastamento, das que estão imediatamente próximas do observador." Antropologia Estrutural, 1967.
- "Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente". - Aos 97 anos, em 2005, quando recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha.
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