Pesquisa
e análise do filme: Que Viva México!
Por
Ojr. Bentes
Texto
base: Que Viva México!
¡Qué
viva México!
Estados
Unidos
México
Rússia
1932
• p&b
• 103 min
Direção
- Sergei
Eisenstein
Roteiro
- Grigori
Aleksandrov
Género
- Documentário
Que
viva México!
(em russo:
Да
здравствует Мексика!,
em espanhol:
¡Qué
Viva Mexico!)
foi um projecto cinematográfico não terminado do cineasta
vanguardista Sergei
Eisenstein, sobre a cultura do México
da época pré-hispânica até à revolução mexicana. A produção
foi marcada por dificuldades e finalmente abandonada. Jay Leyda e
Ziba Voynow denominam-no como o seu maior
projecto de filme e maior tragédia pessoal.[1]
Eisenstein chegou ao México em Dezembro de 1930,
patrocinado por Upton
Sinclair e pela sua esposa Mary
Kimbrough Sinclair.
Em
1933, Eisenstein,
preocupado pela ingerência do sobrinho da Sra. Sinclair, pediu aos
Sinclair mais fundos, mas foram-lhe recusados. Devido a se esgotar o
visto do passaporte, Eisenstein viu-se obrigado a regressar à União
Soviética por Nova
Iorque enquanto os Sinclairs receberam o filme em Los
Angeles.
O
material original nunca foi montado. O material filmado foi
reconstruído por outros sob os títulos de Thunder
Over Mexico,
Eisenstein
in Mexico,
Death
Day
e Time
in the Sun.
Em 1979 Grigori
Aleksandrov, a partir dos storyboards
originais de Eisenstein, compilou Da
zdravstvuyet Meksika!,
uma aproximação à montagem que aquele planeara.
Sinopse
Versão original
O filme foi deixado inacabado por Eisenstein, e de qualquer modo nunca foi previsto ter um argumento linear. A história era altamente estruturada, e consistiria em quatro "novelas" ou "cenários" mais um prólogo e um epílogo.[8] Como refere Bordwell, a ordem precisa e conteúdo destes episódios "mudava constantemente", mas "o filme no seu global descrevia a história do México dos tempos pré-coloniais, da conquista espanhola e indo até à época contemporânea".[9] Cada episódio teria um estilo próprio e distinto, seria "dedicado a um artista mexicano diferente", e teria sido "baseado em algum elemento primário (pedra, água, ferro, fogo, ar)".[10] A banda sonora para cada caso iria ter uma canção folclórica mexicana distinta.[11] Além disso, cada um dos episódios narraria a história de um par romântico; e "abarcando todas as partes estaria o tema da vida e morte, culminando na redicularização da morte".[10]
Reconstrução de Aleksandrov
A estrutura do filme, na reconstrução de Aleksandrov, é de quatro episódios, mais um prólogo e um epílogo. O prólogo apresenta imagens alegóricas ao México pré-hispânico. O episódio "Sandunga" recria os preparativos de uma boda indígena em Tehuantepec. "Fiesta" aborda o ritual da "fiesta brava", enquanto "Maguey" encena a tragédia de um camponês vitimado por se rebelar contra o seu patrão. "Soldadera" (episódio não filmado) apresentaria o sacrifício de uma mulher revolucionária. O epílogo, também conhecido como "Dia de mortos", refere-se ao sincretismo das diversas visões que coexistem no México à volta do tema da morte.
Eisenstein e o México
No
início do século
XX, muitos intelectuais e artistas associados aos movimentos
vanguardistas europeus estavam fascinados pela América
Latina em geral e pelo México em particular: para André
Breton, artistas francês e líder do movimento
surrealista, por exemplo, o México era quase uma incarnação do
surrealismo.[2]
Como o historiador do cinema David Bordwell refere, "tal como
muitos esquerdistas, Eisenstein estava impressionado com o México
por se ter aí desenrolado uma revolução socialista em 1910".[3]
O seu fascínio pelo país datava pelo menos de 1921,
quando aos 22 anos de idade "a sua carreira artística começou
com um tópico mexicano" quando encenou no teatro uma versão da
história de Jack
London O
Mexicano,
em Moscovo.[4]
A investigadora de cinema Inga Karetnikova enquadra esta produção
como um exemplo clássico da estética avant-garde,
um exercício formal mais que um documentário realista; mas
"indirectamente," argumenta, "ele recreou a atmosfera
mexicana". Sobretudo, Eisenstein viu na revolução mexicana uma
instância de um "idealismo fervoroso" que era também
"próximo de Eisenstein, tal como o era para toda a geração de
vanguardistas soviéticos do início da década
de 1920".[5]
Alguns
anos depois, em 1927, Eisenstein teve a oportunidade de encontrar o
muralista mexicano Diego
Rivera, que estava de visita a Moscovo para as celebrações do
décimo aniversário da Revolução
Russa de 1917. Rivera tinha visto o filme mais conhecido de
Eisenstein, O
Couraçado Potemkine,
e louvara-o ao compará-lo ao seu próprio trabalho como muralista ao
serviço da revolução mexicana; também "falou obsessivamente
da herança artística mexicana", descrevendo as maravilhas da
arte e arquitectura dos antigos Astecas
e Maias.[6]
O cineasta soviético escreveu que "a semente para o interesse
naquele país (…) alimentada pelas histórias de Diego Rivera,
quando visitou a União Soviética (…) transformou-se num imenso
desejo para viajar até lá".[7]
Análise
A
grande pergunta sobre o que teria sucedido realmente se Eisenstein
tivesse terminado a obra, ficará para a história. Trata-se de uma
grande ilustração que, por ser representada de uma maneira
artística, fez dos costumes
mexicanos uma obra de arte à mexicana. O prólogo do filme
explica qual foi a contexto e o motivo de não se ter finalizado a
obra, e como é que foi construído, baseando-se nos dados que
Eisenstein deixou, procurando assim conservar o estilo do realizador.
Tem
um fio condutor muito interessante, que vai introduzindo o espectador
nos aspectos e características dos mexicanos, levando-o de uma
história a outra entrelaçando-as com os aspectos culturais locais.
Uma sequência muito interessante que exemplifica a forma de
interligar as cenas é quando a tehuana
por fim compra o seu colar
de moedas de ouro e o põe, havendo logo um esbatimento da cena para
continuar onde um jovem está numa maca, mas com a forma do colar. A
maneira de interligar as cenas e as formas artísticas que
representam é surpreendente. Reflecte o grande planeamento que se
teve para realizar o filme, com grande esforço e dedicação por
parte de toda a equipa que o realizou.
Quando
aos ângulos que se fizeram durante o filme, Eisenstein deixou claro
como representa a divindade, as filmagens que fez dos sacerdotes e do
altar da Virgem foram contrapicadas, deixando em claro que essas
imagens têm um significado e uma representação de autoridade. A
construção simétrica é impressionante, sempre buscando deixar as
coisas centradas, fazendo com que o filme no global tivesse muita
qualidade, com uma muito boa fotografia. Além do uso da montagem,
faz uso do close up, tomas detalhadas, e é como se como fosse
um documentário da vida mexicana, com a representação que faz da
união íntima entre os casais através da cena dos pássaros.
O
som está de acordo com as imagens, deixando uma sensação que
representa o momento. A capacidade de produzir um filme assim mostra
o resultado de um grande esforço. Tendo em conta que a cultura
mexicana é muito conservadora e no filme se vêem algumas cenas que
podem considerar-se como indecentes, são tratadas com arte, com uma
grande estrutura e com uma fotografia de elevadíssima qualidade.
Bibliografia
-
Eisenstein, Sergei (1972). Que Viva Mexico!.New York: Arno, ISBN 978-0405039164.
-
Leyda, Jay, Voynow, Zina (1982), Eisenstein At Work. New York: Pantheon, ISBN 978-0394748122.
-
Ronald Bergan. Eisenstein: A Life in Conflict (em inglês). Londres: Brown Little, 1997. ISBN 0316877085
-
David Bordwell. The Cinema of Eisenstein (em inglês). Cambridge, MA: Harvard University Press, 1993. ISBN 0674131385
-
Harry M. Geduld. Sergei Eisenstein and Upton Sinclair: The Making & Unmaking of Que Viva Mexico! (em inglês). Cambridge, MA: Ronald Gottesman, 1970. ISBN 0253180506
-
Inga Karetnikova. Mexico According to Eisenstein (em inglês). Albuquerque, Novo México: University of New Mexico Press, 1970. ISBN 0826312578
-
Jay Leyda. Kino: A History Of The Russian And Soviet Film (em inglês). Nova Iorque: Macmillan, 1960.
-
Marie Seton. Sergei M. Eisenstein: A Biography (em inglês). Nova Iorque: A.A. Wyn, 1952
Referências
-
May Castleberry, America Fantastica: Art, Literature, and the Surrealist Legacy in Experimental Publishing, 1938–1968 [1] The Museum of Modern Art, acesso em 2008-05-10
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