sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Por uma Gramática do Portunhol - Españes

Portuñol - Españês 

População nos países de língua portuguesa, 2001




O objetivo principal é unificar os paíse de colnização portuguesas e hispânica, por consequência,  a América Latina e principalmente facilitar as negociações no Mercosul.

Portunhol, também conhecido como Portinhol, é uma palavra-valise que designa a interlíngua (ou língua de confluência) originada a partir da mistura de palavras da língua portuguesa e da espanhola. Ocorre sobretudo em cidades de fronteira entre países de língua portuguesa e espanhola. [1]

Devido à semelhança entre as línguas portuguesa e espanhola, já que ambas têm como língua materna o latim, é muito comum as pessoas que dominam uma dessas línguas sentirem-se confortáveis para falar a outra imaginando que basta trocar uma palavra de português para a sua correspondente em espanhol ou vice-versa, sem levar em conta a gramática e a concordância.

É importante ressaltar a dificuldade de se classificar o chamado "portunhol" como uma "língua", visto que não apresenta uma constância de regras e termos, podendo variar de acordo com cada falante. Ou seja, o portunhol não constitui uma modalidade estável e homogênea nem do português, nem do espanhol. Pode ter muitas variedades, a depender do grau de conhecimento que cada um tem da outra língua.[2]No caso do espanhol e português, é certamente uma maneira de se falar.[3]

Caso o castelhano, o português e as demais ibéricas (à exceção do basco), todas gradualmente mutuamente inteligíveis, fossem consideradas com um único idioma, sendo suas variantes dialetos, essa língua seria a segunda nativa mais falada no mundo, a mais falada das Américas, do hemisfério ocidental, do hemisfério sul, das indo-europeias e das que usam o alfabeto latino.

Paises e reigiões do Mundo que falam o Espanhol


Paises e regiões que estão integrando o Espanhol


Países que estão integrando o Espanhol - 2016

Escolas de fronteiras

O portunhol tornou-se uma espécie de desafio enfrentado nas cidades fronteiriças entre países lusófonos e hispânicos, em especial na tríplice fronteira (entre Argentina, Brasil e Paraguai) e entre o sul do Rio Grande do Sul e o norte do Uruguai. Nessas regiões, há várias iniciativas no sentido de introduzir o ensino formal das duas línguas, concomitantemente. [4][5]
O modelo de ensino comum em escolas de zonas de fronteira do Brasil com os países do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul) começou a ser adotado em 2005.[6] Em 2010, o programa das 'Escolas de fronteiras' havia sido implementado em 20 cidades do Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela e Paraguai, atendendo 4.000 alunos, distribuídos em 111 turmas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, e contando com 60 professores, segundo o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (Ipol), que coordena o programa no lado do Brasil. O desafio do programa é criar um modelo de ensino comum, com gestão compartilhada, bilinguismo e Interculturalismo, sem que um país imponha seu modelo ao outro.

Versão europeia

"Portunhol" também é uma forma pejorativa de se referir ao galego, na Espanha, usada pelo movimento luso-reintegracionista galego para se referir, não à sua língua, que consideram a mesma de Portugal, Brasil e do resto da lusofonia (sendo a própria Galiza o berço da língua portuguesa), mas sim ao produto da sua contaminação pelo castelhano (num contexto de conflito linguístico) e à norma promovida oficialmente, propositadamente castelhanizada. Para o reintegracionismo, o galego e o português nunca deixaram de ser uma mesma língua (co-dialetos).

Com este último sentido, é usada também a palavra castrapo provavelmente originada de "castelhano+língua-de-trapo". Também é usada, embora raramente, em sentido pejorativo, em geral por espanhóis de outras regiões, os quais vêm nela uma mistura de português e castelhano.

Referências
  1. Dicionário Houaiss: portunhol
  2.  "O portunhol é uma interlíngua?". Por Enilde Faulstich, 1997
  3. "(Tríplices) Fronteiras literárias". Escritor brasiguaio Douglas Diegues faz uma reflexão sobre o portunhol selvagem, idioma híbrido adotado por ele próprio. Por Rodrigo Teixeira. Overmundo, 10 de agosto de 2011

  4. A construção e a prática do programa bilíngue em região de fronteira internacional Brasil-Argentina. Por Clarice Bianchezzi, Dayani Machado Machiavelli, Leandra Luisa Bertuzzi e Maria Seloir Ceolin Kophal. Cadernos do CEOM. Ano 25, nº 37 - Fronteiras.

  5. Ambivalência e pertencimentos culturais e nacionais nos currículos das escolas bilíngues de fonteira. Por Regina Célia do Couto (UNIPAMPA). 36ª Reunião Nacional da ANPEd – 29 de setembro a 02 de outubro de 2013, Goiânia, GO.

  6. Breve histórico do projeto "Escola Intercultural Bilingue de Fronteira". Por Olga Viviana Flores. I CIPLOM: Foz do Iguaçu, Brasil, 19 a 22 de outubro de 2010. ISSN - 2236-3203

  7. Nas fronteiras, escolas lutam contra o ‘portunhol’ e tentam fazer aulas bilíngues. Guia do Estudante, 14 de maio de 2010.

'Portunhol' facilita comunicação, mas exige cuidado na hora da gramática

Professora Carol Bello foi até o Paço do Frevo para falar dessa relação.
Algumas regras do espanhol não são aplicáveis à língua portuguesa.


Português e espanhol são duas línguas parecidas, mas guardam muitas peculiaridades. Quando um brasileiro está tentando falar com um mexicano, por exemplo, muitas vezes recorre ao “portunhol”, que é a junção das duas línguas. Mas é preciso ter cuidado, na hora da prova, para não cometer alguns deslizes, como explicou a professora Carol Bello, na reportagem do Projeto Educação desta quinta (18).
O Paço do Frevo, localizado na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife, foi visitado por muitos turistas durante a Copa do Mundo, principalmente mexicanos e costarriquenhos, que acompanharam as suas seleções em jogos na Arena Pernambuco.

O prédio foi inaugurado no dia 9 de fevereiro e já recebeu mais de 60 mil pessoas. O espaço leva o turista a entrar no universo do frevo, patrimônio imaterial da humidade. Para atender aos visitantes, 16 educadores trabalham nos dois turnos de funcionamento do museu. “Não adiantava você fazer um museu onde não tivesse essa estrutura que fornecesse ao turista, tanto nacional quanto internacional, o acesso ao espaço”, diz Jairo Garcia, educador do museu.

Durante a Copa, a educadora Manoela Frances foi uma das que recebeu alguns turistas que falam espanhol. Apesar de ser fluente em inglês e italiano, ela desenrolou bem na língua dos países vizinhos do Brasil. “Aconteceu a história da sombrinha, de você falar a importância da sombrinha para o frevo. Falei 'umbrella' [inglês], mas não era. Falei em português, guarda-chuva. Aí eles perguntaram se era ‘paraguas’. Falei obrigado e aprendi para não mais errar. A experiência é que preciso fazer um pouquinho de espanhol”, admite.

A situação que Manoela vivenciou é algo comum para quem não é fluente na língua espanhola. Por ser um idioma parecido com o português, os brasileiros acabam misturando as palavras e criando uma nova língua: o portunhol. “Portunhol é o que a gente chama de interlíngua, ou seja, quem está aprendendo o idioma acaba que tenta, através da observação - sabe, por exemplo, que em espanhol há muitas palavras terminadas em 'ción'. Então, a partir da observação, ele sai reproduzindo esse ‘ción’ em várias outras construções. Isso é portunhol, resultado dessa observação, e fica no meio do caminho entre as línguas. Existe uma proximidade entre português e espanhol que acaba estimulando que as pessoas que estão aprendendo essa língua se arrisquem, o que é muito positivo. Costumo dizer que aprende melhor aquele que se arrisca mesmo”, ressalta a professora Carol Bello.

Essa semelhança pode atrapalhar, entretanto, na hora de usar a gramática. “Em português, uma construção como 'o meu amigo é costarriquenho' é permitida. Posso usar o artigo 'o' diante do possessivo 'meu'. Já em espanhol isso não pode acontecer. A frase ficaria  'mi amigo es costarriquenho' ou 'mi amigo es costarricense'. Sem o artigo diante do possessivo átono 'mi'”, ensinou Carol.
 
O que pode no português nem sempre é permitido em espanhol. “Posso dizer em língua portuguesa 'o guia está te esperando'. Já em espanhol, esse pronome não pode vir entre os dois verbos. Ele virá antes de toda a perífrase ou depois dela e junto a esse verbo. Então, essa frase em espanhol, ficaria 'el guia te está esperando' ou 'el guia esta esperándote'”, fala a professora.
Para finalizar, Carol Bello ensina que no espanhol, diferente do português, não se pode deixar de fazer referências do que se está falando. “Eu diria 'o turista comprou a água de coco, mas não pagou'. Então, não faço referência à água de coco com o segundo verbo, no caso 'pagou'. Em espanhol, essa referência tem que aparecer. O pronome complemento tem que surgir. Então, diria da seguinte forma: 'el turista compro el agua de coco, pero no la pago'. Ou seja, aparece na segunda sentença através do pronome 'la'”.

http://g1.globo.com/pernambuco/vestibular-e-educacao/noticia/2014/09/portunhol-facilita-comunicacao-mas-exige-cuidado-na-hora-da-gramatica.html

O portunhol: língua, interlíngua ou dialeto


Griselle M. Calderón Morales
Departamento de Lenguas Extranjeras (Portugués)
Facultad de Humanidades

Resumen:
Español:
El portuñol: interlengua, lengua o dialecto

El portuñol es un fenómeno que ocurre en las fronteras entre países lusófonos y países de habla hispana. Se conoce como portuñol o “portuhnol” la mezcla entre el español y el portugués creada por los habitantes fronterizos. En este trabajo identificaremos el portuñol como interlengua, lengua o dialecto según la definición de estos conceptos. Con ese propósito utilizaremos la variación del portuñol hablada en las ciudades gemelas Santana do Livramento en el estado de Río Grande del Sur en Brasil y la Cuidad de Rivera en Uruguay. Igualmente, expondremos sus aspectos sociolingüísticos y lingüísticos como la fonología, morfología y sintaxis de manera que podamos llegar a una conclusión crítica para poder definir este fenómeno.
Palabras claves: portuñol, Lingüística, dialecto, Brasil

Resumo:
Português:
O portunhol: interlíngua, língua ou dialeto

O portunhol ou “portuñol” é um fenômeno que ocorre nas fronteiras entre os países lusófonos e países de fala hispana. Conhece-se como o portunhol ou “portuñol” a mistura entre o espanhol e o português criada pelos habitantes fronteiriços. Neste trabalho identificaremos o portunhol como uma interlíngua, uma língua ou um dialeto conforme às definições destes conceitos. Com este propósito usaremos a variação do portunhol falada nas cidades gêmeas de Santana do Livramento no estado do Rio Grande do Sul no Brasil e na cidade de Rivera no Uruguai. Igualmente, exporemos seus aspectos sociolinguísticos e linguísticos como a fonologia, a morfologia e a sintaxe para chegar a uma conclusão crítica e assim poder definir o fenômeno.
Palavras Chaves: portunhol, linguística, dialeto, Brasil

Abstract:
English:
Portunhol: Interlanguage, Language or Dialect

“Portuñol” or “portunhol” is a phenomenon that occurs between the frontiers of Lusophone and Hispanic countries. “Portuñol” or “portunhol” is known as the mixture of the Spanish and Portuguese languages created by border communities. In this paper, we are going to identify “portunhol” as an interlanguage, a language, or a dialect according to the definition of these concepts. With this purpose, the variation of “portunhol” spoken in the twin cities of Santana do Livramento located in the state of Rio Grande do Sul in Brazil and in the city of Rivera in Uruguay will be used. In addition, we are going to expose the sociolinguistic and linguistic aspects such as the phonology, the morphology and the syntax in order to reach an in-depth conclusion to define this phenomenon.
Keywords: portuñol, portunhol, Linguistics, dialect, Brazil

Introdução: ¿É o portunhol um interlíngua, língua ou dialeto?
O continente sul-americano é uma mistura de culturas tanto europeias como indígenas. Dentro da cultura temos as línguas, as quais evolucionam com o tempo e formam parte da identidade das pessoas. Entre todas as línguas e os dialetos que se falam, também temos híbridos como o “portunhol” (Lipski, 2006: 3; 2007: 16). O portunhol denomina-se como a língua coloquial utilizada pelas comunidades fronteiriças entre os países de fala lusófona e hispana. As fronteiras podem ser tanto as ibéricas como as sul-americanas; neste caso trabalharemos com as fronteiras sul-americanas. O portunhol é uma mistura entre o português e o espanhol e se fala entre a fronteira do Brasil com a Argentina, a Venezuela, a Colômbia, a Bolívia, o Paraguai e o Uruguai. No entanto, o portunhol se fala num amplo território do continente sul-americano. Entre o Brasil e o Uruguai existem as cidades fronteiriças, conhecidas como gêmeas, porque têm uma fronteira comercial e política aberta. Portanto, os habitantes têm acesso entre os dois países. Isso, assim como o período histórico, influencia o desenvolvimento da variação linguística, do portunhol.
Os objetivos deste ensaio são a apresentação do fenômeno do portunhol e a classificação deste sob os conceitos de língua (Lourenço Souza, et. al., 2014) (sistema de comunicação), interlíngua (sistema de transição no processo de aprendizagem duma língua) ou dialeto (variedades da língua). A variação do portunhol que utilizaremos para exemplificar o fenômeno é o das cidades gêmeas de Santana do Livramento no estado do Rio Grande do Sul no Brasil e de Rivera no Uruguai. Através das definições destes conceitos e dos aspectos linguísticos identificaremos a qual destas noções pertence o portunhol. Também exporemos os aspectos sociolinguísticos do fenômeno e como é percebido pela sociedade destas cidades. Para chegar à nossa conclusão primeiro ofereceremos o contexto histórico pelo qual o fenômeno ocorre. Depois, explicaremos o que são as cidades gêmeas, os conceitos de interlíngua, língua e dialeto, os aspectos sociolinguísticos e suas características linguísticas.
O Brasil, conquistado pela Coroa portuguesa em 1500, teve um processo expansionista no século XVIII “que distribuiu terras e fundou guarnições militares na região” uruguaia (Sturza, 2005: 48). Com a expansão se ocuparam zonas no norte do Uruguai, as quais mais tarde foram recuperadas pelos uruguaios. As fronteiras foram delimitadas ao final do século XIX com o Tratado de 1851, entre o império do Brasil e o governo de Montevidéu, Uruguai (Navarrete, 2006: 6). No limite entre o Brasil e o Uruguai existem seis cidades gêmeas, as quais têm uma interação de relações e redes de âmbito local com centros econômicos, administrativos, políticos (capital departamental, capital do país) e a nível internacional (países vizinhos, intercâmbio comercial internacional) (Navarrete, 2006: 7).
Outro aspecto importante que devemos ter em consideração é a organização do MERCOSUL. Criado pelo Tratado de Assunção em 26 de março de 1991 (Educa), o Mercado Comum do Sul inclui o Brasil, a Argentina, a Bolívia, o Paraguai, a Venezuela e o Uruguai (Mercosul). Segundo a página cibernética da organização, os países pertencentes ao tratado “compartilham uma comunhão de valores que encontra expressão em suas sociedades democráticas, pluralistas, defensoras das liberdades fundamentais, dos direitos humanos, da proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, bem como seu compromisso com a consolidação da democracia, a segurança jurídica, o combate à pobreza e o desenvolvimento econômico e social com equidade” (Mercosul). A organização joga um papel importante na educação nas cidades gêmeas, o qual discutiremos mais adiante. As línguas oficias do MERCOSUL são o português e o espanhol. Como mesmo ocorre o contato entre as culturas das cidades do MERCOSUL por razões históricas ou políticas, ocorre o contato entre as línguas, e é de onde sai o portunhol.
As pesquisas sobre o portunhol denominam-no como uma língua vernácula, um dialeto do português do sul do Brasil ou do espanhol no norte do Uruguai (Lipski, 2006: 7; 2007: 12). Mas com as características que vamos proporcionar, o portunhol é mais uma interlíngua (Chareille, 2004:126). Uma interlíngua é,
“…[O] sistema de transição criado pelo aprendiz, ao longo de seu processo de assimilação de uma língua estrangeira (...) caracterizada pela interferência da língua materna, até o aprendiz ter alcançado seu teto na língua estrangeira, ou seja, seu potencial máximo de aprendizado.” (Faulstich, 1997: 8)
Portanto tem pouca tradição literária e não tem gramática definida. Em câmbio, uma língua é, “…[ ] um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade.” (Santos, 2000: 2) que tem uma tradição literária e uma gramatica definida. Por outro lado, um dialeto é uma “…[ ] variedade da língua (...) identifica-se por peculiaridades de pronúncia, de vocabulário e de gramática.” (Chareille, 2004: 126). Lembremos que a diferença entre uma língua e um dialeto é a oficialização desta pelo governo ao nomeá-lo como língua oficial dum pais.
O portunhol, no seu aspecto sociolinguístico, é considerado um fenômeno que apresenta diglossia, uma “… [ ] situação linguística em que duas línguas são utilizadas no mesmo terreno geográfico de modos diferentes e desempenhando papéis diferentes”. (Martínez, 2014: 204) No caso de Rivera, no Uruguai, o lado onde acontece o fenômeno (Lipski, 2006: 7; 2007: 14; Chareille, 2004: 126), o espanhol é a língua oficial do país e se utiliza no âmbito formal e público, enquanto o portunhol é utilizado no âmbito familiar e informal (2014: 204; Caravalho, 1997: 642; 2004: 129-130). Por outra parte, considera-se que há bilinguismo com diglossia, quando o falante tem competência linguística nas duas línguas (Mozzillo, 2013: 193). O portunhol é resultado duma mistura de códigos (“code mixing”) onde é difícil estabelecer uma língua base. (2006: 11; 2013: 190) A mistura de códigos não é tão marcada como o intercâmbio de códigos (“code-switching”), onde cada língua é “…reconhecível no seu uso alternado” (2013:191). A mistura de código é provocada pela interferência do espanhol no português, ou vice versa. Esta ambiguidade é a que não permite estabelecer com certeza a língua base do portunhol, já que a preferência da seleção da língua ‘base’ é determinada por cada falante.
A ambiguidade das formas no portunhol leva-o a ser uma fala rejeitada pela comunidade, pois é vista como rasgo duma educação deficiente e dum nível social baixo, de modo que os falantes, apresentam uma insegurança linguística, quer dizer uma negatividade para o fenômeno e se autocorrigem constantemente (Caravalho 1997: 644; Faulstich 1997: 8). A fim de lutar contra a “interferência negativa” e os “erros de mistura de línguas” como dizem alguns professores uruguaios (1997: 10), o MERCOSUL implantou na fronteira o programa de Imersão Dual. O programa impõe o ensino formal do espanhol e do português padrão (2014: 213). Esta iniciativa é bem vista por uns e um pouco desprezada por outros que dizem que o ensino do português atenta contra o portunhol, o qual consideram uma língua madre (2014: 208).
A interferência linguística do espanhol e o português no portunhol é perceptível em algumas características linguísticas, como na fonologia, na morfologia e na sintaxe. Alguns rasgos fonológicos do portunhol são combinações das duas línguas, embora os rasgos do português estejam mais presentes. Um exemplo proposto pelo linguista John M. Lipski é a retenção do /s/ final pronunciando a consoante sibilante [s], a qual o português do Brasil tende a eliminar, como em “… as pessoa velha, os livros importante” (2016: 8). Outra variável fonológica é a vocalização da consoante palatal líquida /ʎ/ e as consoantes dentais /d/ e /t/ seguida pelo som vocálico /i/, tendência que vêm provavelmente do espanhol (1997: 648). O mesmo ocorre com a simplificação das consoantes africadas [dʒ] e [tʃ] presentes no português, como en [dʒía] ‘dia’ e [tʃía] ‘tia’ (Caravalho, 1997: 648), a ditongação de vogais simples do espanhol, como perro> pierro, e a monotongação dos ditongos espanhóis, como tempo<tiempo, oco<hueco (Faulstich, 1997: 11). Entre os rasgos morfológicos temos o acrescentamento de prefixos nos verbos, como arremontar por remontar, amostrar por mostrar (Chareille, 2004: 127). Além disso, a mesma perda da /s/ na fonologia está também presente na morfologia terminando numa falta de concordância entre o artigo no plural e o substantivo em questão de número. Os artigos definidos e os pronomes pessoais espanhóis são substituídos pelos portugueses, a preposição en (em espanhol) se combina com os artigos definidos (ex. na iscuela, ne la escuela) (1997: 13). Na sintaxe, a interferência é “observada na estrutura frasal” segundo a professora Enilde Faulstich (1997: 13), por exemplo, a falta de concordância entre pessoa e número e a substituição dos verbos e auxiliares tener por haber. As palavras que são em portunhol muitas vezes são deformações do léxico em espanhol ou em português, por exemplo, millo de milho e callorro de cachorro (Faulstich 14). O portunhol, aos poucos, há começado a produzir literatura, presente na internet e em livros publicados como Fronteras de Joaquim Coluna (1975) e Toda la tierra (2000) do escritor fronterizo Saúl Ibargoyen, e Mar Paraguayo (1992) do escritor brasileiro Wilson Bueno, cujo portunhol é uma proposta do autor e a língua resulta própria (Fernández García, 2006: 561-564).

Conclusões
Como vimos, o portunhol tem estado presente desde a época da colonização entre o Brasil e sua fronteira. Portanto, o portunhol é também “língua materna” para as pessoas que sempre hão estado em contato com a língua espanhola tanto quanto com a portuguesa. É parte de sua identidade. Retomando a nossa hipótese, segundo as definições e os exemplos dados, concluímos que o portunhol fica numa fase de interlíngua já que não é oficial, seus aspectos linguísticos não estão ainda bem definidos, embora tenha uma literatura emergente, e a oscilação entre o espanhol e o português depende da competência linguística que tenha o falante. Respeito a educação bilíngue que se está impondo na fronteira, consideramos que é um bom começo em favor de uma melhor competência linguística nas duas línguas dos habitantes expostos ao fenômeno. Tem o fim de melhorar a capacidade bilíngue e comunicativa nestas comunidades, sem eliminar o portunhol, que é parte de sua cultura. Em síntese, o portunhol, tal e como o temos apresentado, é uma interlíngua à qual os fronteiriços estarão sempre expostos sem importar a competência linguística no português ou no espanhol.

Referências
Caravalho, A. M. Variation and Diffusion of Uruguayan Portuguese in Bilingual Border Town. Actas do I Simposio Internacional sobre Bilingüismo. 642-651, 1997. Digital http://ssl.webs.uvigo.es/actas1997/05/Carvalho.pdf
Chareille, S. Aspects de la situation linguistique de l’Uruguay: le cas du portuñol. Glottopol, Revue de sociolinguistique en ligne. Núm. 4, 125-135, 2004. Digital http://glottopol.univ-rouen.fr/telecharger/numero_4/gpl401introduction.pdf
Fernández García, María Jesús. Portuñol y literatura. Revista de Estudios Extremeños. 52(2), 555-576, 2006. Digital http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2066306
Faulstich, E. ¿O portunhol é uman interlíngua? Seminario no Institut Universitari de Lingüística Aplicada (UILA). Barcelona: Universitat Pompeu Fabra, 1997. Digital https://catalyst.uw.edu/workspace/file/download/bd3afceedc56b23edd033379c0f8e9b7acb4f067242b51ee846b2a6ac3d45bd6
Lipski, J. M. Too close for comfort? The genesis of "Portuñol/Portunhol". In T. L. Face, & C. A. Klee, Selected Proceedings of the 8th Hispanic Linguisctics Symposium (pp. 1-22). Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project, 1-22, 2006. Digital http://www.lingref.com/cpp/hls/8/paper1251.pdf https://www.researchgate.net/publication/253263932_Too_Close_for_Comfort_The_Genesis_of_PortunolPortunhol
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Lourenço Souto, Mauren; Flores González Alem, Alline Oliva; de Souza Brito, Ana Marlene & Bernardo, Claudia. Conceitos de língua estrangeira, língua segunda, língua adicional, língua de herança, língua franca e língua transnacional. Revista Philologus. Año 20, Núm. 60, Suplmento #1, 890-900, 2014. Digital http://www.filologia.org.br/revista/60supl/070.pdf
Martínez, Gisela Paola. Dialectos portugueses del Uruguay. Diglossia y educación en la zona fronteriza de Uruguay y Brasil. Web-Revista SOCIODIALECTO. Vol. 5, Núm. 13, 203-218, 2014. Digital http://www.sociodialeto.com.br/edicoes/18/08082014102114.pdf
Mozzillo, Isabella. Aspectos do portunhol na fronteira Brasil-Uruguai // Aspects of Portunhol in the border between Brazil and Uruguay. PAPIA: Revista Brasileira de Estudos Crioulos e Similares. 23(2), 187-199, 2013. Digital http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/download/2044/1914
Navarrete, Margarita. “La región fronteriza Uruguayo-Brasilera. Laboratorio social para la integración regional: cooperación e integración transfronteriza”. Montenideo: Facultad de Ciencias Sociales-Universidad de la República, 2006. Digital (manuscrito inédito-tesina de licenciatura) http://www10.iadb.org/intal/intalcdi/PE/2007/00095.pdf
Santos, Carlos. LÍNGUA + LINGUAGEM = COMUNICAÇÃO. Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. 2000. Digital http://www.filologia.org.br/anais/anais%20iv/civ12_5.htm
Sturza, Eliza Rosa. Línguas de fronteira: o desconhecido território das práticas lingüísticas nas fronteiras brasileiras. Ciência e Cultura. 52(2), 47-50, 2005. Digital http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005000200021&script=sci_arttext http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v57n2/a21v57n2.pdf

Endnote ou footnote
Por este meio, quero expressar o meu mais sincero agradecimento à minha professora Dra. Lolita (María D.) Villanua pelo apoio e a atenção que teve comigo.

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