Vídeo inicial: Sociologia- Radcliffe-brown
Introdução - Estrutura e Função na Sociedade Primitiva. In: https://ojrbentes.blogspot.com/2018/10/estrutura-e-funcao-na-sociedade.html
Texto Base: SOBRE O CONCEITO DE “FUNÇÃO" EM CIÊNCIA SOCIAL. In: file:///D:/Downloads/2%20Radcliffe%20Brown.pdf
O
conceito de "função" aplicado às sociedades humanas
baseia-se numa analogia entre a vida social e a vida orgânica. O
reconhecimento da analogia e de alguns de seus significados
importantes é pelo menos tão antigo quanto Protágoras e Platão.
No século dezenove a analogia, o conceito de função e a própria
palavra aparecem freqüentemente em Filosofia Social e Sociologia.
Que eu saiba, a primeira formulação sistemática do conceito
aplicado ao estudo estritamente científico da sociedade foi a de
Emile Durkheim em 1895. 2 A definição de Durkheim é que a "função"
de uma instituição social é a correspondência entre ela e as
necessidades do organismo social. Essa definição requer algum
esclarecimento. Em primeiro lugar, para evitar possível ambigüidade
e, em particular, a possibilidade de uma interpretação teleológica,
eu gostaria de substituir a palavra "necessidades" pela
expressão "condições necessárias de existência", ou,
se se usar a palavra "necessidades", deve ser compreendida
apenas nesse sentido. Convém notar aqui, como um ponto a que
voltaremos, que qualquer tentativa para aplicar esse conceito de
função em ciência social envolve a suposição de que há
condições necessárias de existência para as sociedades humanas,
exatamente como as há para os organismos animais, e que elas podem
descobrir-se por meio da espécie adequada de indagação científica.
Para
melhor elucidação do conceito é conveniente usar a analogia entre
a vida social e a vida orgânica. Como todas as analogias, precisa
ela usar-se com cuidado. Um organismo animal é um aglomerado de
células e fluídos intersticiais dispostos em relação uns com os
outros, não como um agregado, mas sim como um todo integrado. Para o
bioquímico, é um sistema complexamente integrado de moléculas
complexas. O sistema de relações pelo qual essas unidades se ligam
é a estrutura orgânica. Conforme o sentido dado aqui às palavras,
o organismo não é em si a estrutura; é uma coleção de unidades
(células ou moléculas) dispostas numa estrutura, isto é, numa
série de relações: o organismo tem uma estrutura.
Dois
animais completamente desenvolvidos da mesma espécie e sexo
consistem em unidades semelhantes combinadas numa estrutura
semelhante. Deve definir-se, assim a estrutura como uma série de
relações entre as entidades. (A estrutura de uma célula é, do
mesmo modo, uma série de relações entre moléculas complexas, e a
estrutura de um átomo é uma série de relações entre elétrons e
prótons). Enquanto vive, conserva o organismo certa continuidade de
estrutura, embora não conserve a identidade completa de suas partes
constituintes. Ele perde algumas de suas moléculas constituintes
pela respiração ou excreção; recebe outras pela respiração e
absorção alimentar. Com o correr do tempo suas células
constituintes não ficam as mesmas, mas a disposição estrutural das
unidades constituintes permanece semelhante. Ao processo pelo qual se
mantém essa continuidade estrutural do organismo chama-se vida. O
processo vital consiste nas atividades e interações das unidades
constituintes do organismo, as células, e os órgãos formados pelas
células.
Segundo
a acepção em que se toma aqui a palavra "função",
concebe-se a vida de um organismo como o funcionamento de sua
estrutura. É através da continuidade do funcionamento e por ela que
se preserva a continuidade da estrutura. Se considerarmos qualquer
parte recorrente do processo vital, como a respiração, a digestão
etc., sua função é o papel que ela representa na vida do organismo
como um todo, é a contribuição que faz a esta. No sentido dado
aqui às palavras, uma célula ou um órgão tem uma atividade e essa
atividade tem uma função. É verdade que falamos comumente da
secreção do suco gástrico como sendo uma "função" do
estômago. Conforme a acepção em que usamos aqui os termos,
deveríamos dizer que essa é uma "atividade" do estômago,
cuja função é dar às proteínas do alimento uma forma em que
estas são absorvidas e distribuídas pelo sangue aos tecidos. 3
Podemos observar que a função de um processo fisiológico
recorrente é assim uma correspondência entre ele e as necessidades
(isto é, as condições necessárias de existência) do organismo.
Se
empreendermos uma investigação sistemática da natureza dos
organismos e da vida orgânica, há três séries de problemas que se
nos apresentam. (Há, além disso, certas outras séries de problemas
pertinentes aos aspectos ou característicos da vida orgânica os
quais não nos interessam aqui). Uma é a da morfologia − quais as
espécies de estruturas orgânicas que existem, quais as semelhanças
e variações que acusam e como podem ser classificadas? A segunda é
constituída pelos problemas de fisiologia − como, em geral,
funcionam as estruturas orgânicas, qual é, pois, a natureza do
processo vital? A terceira é constituída pelos problemas de
desenvolvimento − como vêm a existir novos tipos de organismo?
Passando
da vida orgânica para a vida social, se examinarmos uma comunidade
tal como uma tribo africana ou australiana, podemos reconhecer a
existência de uma estrutura social. Os seres humanos individuais, as
unidades essenciais nesse caso, ligam-se por uma série definida de
relações sociais num todo integrado. A continuidade da estrutura
social, como a da estrutura orgânica, não é destruída pelas
mudanças nas unidades. Os indivíduos podem deixar a sociedade, seja
por morte, ou de outro modo; outros podem entrar nela. A continuidade
da estrutura mantém-se pelo processo da vida social, que consiste
nas atividades e interações dos seres humanos individuais e dos
grupos organizados, em que eles se unem. A vida social da comunidade
define-se aqui como o funcionamento da estrutura social. A função
de uma atividade recorrente, como a punição de um crime ou uma
cerimônia funérea, é o papel que ela representa na vida social
como um todo e, portanto, a contribuição que faz à manutenção da
continuidade estrutural.
O
conceito de função tal como se define aqui envolve, assim, a noção
de uma estrutura que consiste numa série de relações entre
entidades unitárias, sendo mantida a continuidade da estrutura por
um processo vital formado pelas atividades das unidades
constituintes. Se, com esses conceitos em mente, empreendermos uma
investigação sistemática da natureza da sociedade humana e da vida
social, veremos que se nos apresentam três séries de problemas.
Primeiro, os problemas de morfologia social − quais as espécies de
estruturas sociais que existem, quais são suas semelhanças e
diferenças, como devem ser elas classificadas? Segundo, os problemas
de fisiologia social − como funcionam as estruturas sociais?
Terceiro, os problemas de desenvolvimento − como vêm a existir
novos tipos de estrutura social?
Devem
notar-se dois pontos importantes em que se rompe a analogia entre o
organismo e a sociedade. Num organismo animal é possível observar a
estrutura orgânica independentemente, em grande parte, de seu
funcionamento. É, pois, possível fazer uma morfologia independente
da fisiologia. Mas na sociedade humana, a estrutura social como um
todo só pode ser observada no seu funcionamento. Algumas das feições
da estrutura social, como a distribuição geográfica de indivíduos
e grupos podem ser diretamente observadas, mas a maior parte das
relações sociais, que constituem em sua totalidade a estrutura,
como as relações de pai e filho, comprador e vendedor, governante e
governado, não podem ser observadas a não ser nas atividades
sociais em que as relações estão funcionando. Segue-se que uma
morfologia social não pode ser estabelecida independentemente de uma
fisiologia social.
O
segundo ponto é que um organismo animal não muda, no curso de sua
vida, o seu tipo estrutural. Um porco não se toma um hipopótamo. (O
desenvolvimento do animal desde a germinação até a maturidade não
é uma mudança de tipo, uma vez que o processo em todos os seus
estádios é típico para a espécie). Ao contrário, uma sociedade
no curso de sua história, pode mudar e muda o seu tipo estrutural
sem qualquer quebra de continuidade. Pela definição aqui oferecida,
"função" é a contribuição que uma atividade parcial
faz à atividade total de que participa. A função de determinado
uso social é a contribuição que ele faz à vida social total como
o funcionamento do sistema social total. Esse ponto de vista implica
que um sistema social (a estrutura social total de uma sociedade
juntamente com a totalidade dos usos sociais, em que aparece essa
estrutura e de que ela depende para a sua existência continuada) tem
uma certa espécie de unidade, a que podemos chamar unidade
funcional. Podemos defini-la como sendo uma condição em que todas
as partes do sistema social operam juntas com um grau suficiente de
harmonia ou coerência interna, isto é, sem produzir conflitos
persistentes que não possam ser nem resolvidos nem regulados. 4 Essa
idéia da unidade funcional de um sistema social é, está claro, uma
hipótese. Mas é uma hipótese que parece ao funcionalista valha a
pena verificar pelo exame sistemático dos fatos.
Há
um outro aspecto da teoria funcional que deve ser brevemente
mencionado. Para volver à analogia da vida social e da vida
orgânica, reconhecemos que um organismo pode funcionar mais ou menos
eficientemente e assim estabelecemos uma ciência especial da
Patologia para cuidar de todos os fenômenos de disfunção.
Distinguimos num organismo o a que chamamos saúde e doença. Os
gregos do século V a.C. pensavam que se podia aplicar a mesma noção
à sociedade, à cidade-estado, distinguindo condições de eunomia
isto é, ordem, saúde social, da dysnomia, isto é, desordem, doença
social. 5 No século XIX, Durkheim, na sua aplicação da idéia de
função, procurou lançar as bases de uma patologia social
científica, baseada numa morfologia e numa fisiologia. Nas suas
obras, particularmente naquelas sobre o suicídio e sobre a divisão
do trabalho, ele tentou firmar critérios objetivos pelos quais
julgar se dada sociedade em determinada época é normal ou
patológica, eunômica ou dysnômica. Por exemplo, ele procurou
mostrar que o aumento da taxa de suicídio em muitos países durante
parto do século XIX é um sintoma de condição social dysnômica
ou, para empregar a sua terminologia, anômica. Não há,
provavelmente, nenhum sociólogo que sustente ter Durkheim realmente
conseguido estabelecer base objetiva para uma ciência da patologia
social.
Em
relação com as estruturas orgânicas, podemos achar critérios
estritamente objetivos pelos quais distinguir a doença da saúde, o
patológico do normal, porque a doença é aquilo que ou ameaça o
organismo com a morte (a dissolução de sua estrutura) ou interfere
nas atividades que são características do tipo orgânico. As
sociedades não morrem no mesmo sentido em que morrem os animais e
não podemos, portanto, definir a disnomia como sendo o que conduz,
quando não controlado, à morte de uma sociedade. Além disso, uma
sociedade difere de um organismo por isso que ela pode mudar seu tipo
estrutural, ou pode ser absorvida como parte integrada de uma
sociedade maior. Portanto, não podemos definir a disnomia como sendo
uma perturbação das atividades usuais de um tipo social (como
procurou Durkheim fazê-Io).
Retornemos
por um momento aos gregos. Eles concebiam a saúde de um organismo e
a eunomia de uma sociedade como sendo em cada caso uma condição de
cooperação harmoniosa de suas partes. Ora, isso no que concerne à
sociedade, é a mesma coisa que o que acima consideramos como a
unidade funcional ou a coerência íntima de um sistema social, e
sugeriu-se que, para o grau da unidade funcional de determinada
sociedade, será talvez possível estabelecer um critério puramente
objetivo. Admite-se que isso não se possa fazer presentemente; mas a
ciência da sociedade humana está ainda na sua extrema infância.
Talvez, pois, pudéssemos dizer que, enquanto que um organismo
atacado por uma doença virulenta reagirá e, se falha a sua reação,
morrerá, uma sociedade que é lançada numa condição de desunidade
ou incongruência funcional (porque identificamos isso, agora,
provisoriamente, com a disnomia) não morrerá, a não ser em casos
relativamente raros como o de uma tribo australiana esmagada pela
força destrutiva do homem branco, mas continuará a lutar por alguma
espécie de eunomia, alguma modalidade de saúde social, e pode, no
curso dessa luta, alterar o seu tipo estrutural. O "funcionalista"
tem, ao que parece, amplas oportunidades de observar esse processo,
nos dias presentes, nos povos nativos sujeitos ao domínio das nações
civilizadas, e nessas próprias nações. 8 A falta de espaço não
nos permitirá debater aqui um outro aspecto da teoria funcional,
isto é, se a mudança de tipo social depende ou não da função,
isto é, das leis de fisiologia social. A minha opinião é que
existe tal dependência e que se pode estudar-lhe a natureza no
desenvolvimento das instituições legais e políticas, dos sistemas
econômicos e das religiões da Europa através dos últimos vinte e
cinco séculos. Para as sociedades pré-Ietradas que são objeto da
Antropologia, não é possível estudar os detalhes dos longos
processos de mudanças de tipo. A única espécie de mudança que
pode o antropólogo observar é a desintegração de estruturas
sociais. Mesmo aqui, entretanto, podemos observar e comparar
movimentos espontâneos tendentes à reintegração. Temos, por
exemplo, na África, na Oceania e na América o aparecimento de novas
religiões que podem ser interpretadas, à base de uma hipótese
funcional, como tentativas para aliviar uma condição de disnomia
social produzida pela rápida modificação da vida social acarretada
pelo contato com a civilização branca.
O
conceito de função acima definido constitui uma "hipótese de
trabalho" pela qual se formula certo número de problemas para
investigação. Nenhuma indagação científica é possível sem essa
formulação de hipóteses de trabalho. São aqui necessárias duas
observações. Uma é que a hipótese não exige a assertiva
dogmática de que tudo na vida de todas as comunidades tem uma
função. Exige apenas a suposição de que pode ter uma, e que se
justifica o procurarmos descobri-la. A segunda é que o que parece
constituir o mesmo uso social em duas sociedades pode ter funções
diferentes nas duas. Assim, a prática do celibato na Igreja Católica
Romana de nossos dias tem funções muito diferentes das do celibato
na igreja cristã dos primeiros tempos. Por outras palavras, a fim de
definir um uso social, e portanto a fim de tornar válidas as
comparações entre os usos de diferentes povos ou períodos, é
necessário considerar não apenas a forma do uso mas também a sua
função. Nessa base, por 'exemplo, a crença num Ser Supremo numa
sociedade simples é coisa diferente dessa mesma crença numa
comunidade civilizada moderna. A aceitação da hipótese ou ponto de
vista funcional acima esboçado resulta no reconhecimento de vasto
número de problemas para a solução dos quais são necessários
amplos estudos comparativos de sociedades de muitos tipos diversos e
também estudos intensivos do maior número possível de sociedades
singulares. Nos estudos "de campo" dos povos mais simples
leva ela, antes de tudo, a um estudo direto da vida social da
comunidade como funcionamento de uma estrutura social, e disso há
vários exemplos na literatura recente. Desde que a função de uma
atividade social deve encontrar-se examinando-se-Ihe os efeitos sobre
os indivíduos, são aqueles estudados, quer no indivíduo médio,
quer tanto nos indivíduos médios como nos excepcionais. Ademais, a
hipótese leva a tentativas para investigar diretamente a congruência
ou unidade funcional de um sistema social e para determinar na medida
do possível, em cada caso, a natureza dessa unidade. Esses estudos
"de campo" serão evidentemente diferentes, em muitos
pontos, dos estudos levados a efeito sob outros pontos de vista, por
exemplo, o ponto de vista etnológico que acentua a difusão. Não
nos cabe dizer se um ponto de vista é melhor que outro, mas sim que
são diferentes, e qualquer parcela de trabalho devia ser julgada com
relação ao que visa fazer.
Se
o ponto de vista aqui esboçado for tomado como uma forma de
"funcionalismo", posso permitir-me fazer algumas
observações sobre o artigo do Dr. Lesser. Ele se refere a uma
diferença de "conteúdo" na antropologia funcional e não
funcional. Sob o ponto de vista aqui apresentado, o "conteúdo"
ou matéria-objeto da antropologia social é a vida social total de
um povo em todos os seus aspectos. Por conveniência de trabalho é
muitas vezes necessário dedicar atenção especial a alguma parte ou
aspecto determinado da vida social, mas, se o funcionalismo significa
alguma coisa, é a tentativa para ver a vida social de um povo como
um todo, como uma unidade funcional.
O
Dr. Lesser fala do funcionalista como acentuando "os aspectos
psicológicos da cultura". Presumo que ele se refira, aqui, ao
fato de reconhecer o funcionalista que os usos de uma sociedade só
operam ou "funcionam" através de seus efeitos na vida,
isto é, nos pensamentos, sentimentos e ações dos indivíduos. O
ponto de vista "funcionalista" aqui apresentado implica,
portanto, que temos de investigar tão completamente quanto possível
todos os aspectos da vida social, considerando-os em relação uns
com os outros, e que uma parte essencial da tarefa é a investigação
do indivíduo e do modo como ele é moldado pela vida social ou a ela
se ajusta. Passando do conteúdo para o método, parece o Dr. Lesser
achar algum conflito entre o ponto de vista funcional e o histórico,
o que lembra as tentativas anteriormente feitas para enxergar um
conflito entre a Sociologia e a História. Não precisa haver
conflito, mas há uma diferença.
Não
há, e não pode haver, nenhum conflito entre a hipótese funcional e
o ponto de vista segundo o qual toda cultura, todo sistema social, é
o resultado final de uma série sui-generis de acidentes históricos.
O processo de desenvolvimento do cavalo de corridas desde o seu
ancestral de cinco artelhos foi uma série suigeneris de acidentes
históricos. Isso não está em conflito com o ponto de vista do
fisiólogo de que o cavalo de nossos dias e todas as formas
anteriores se conformam ou se conformaram com as leis fisiológicas,
isto é, com as condições necessárias da existência orgânica. A
paleontologia e a fisiologia não estão em conflito. Uma
"explicação" do cavalo de corridas tem de encontrar-se na
sua história - como veio a ser exatamente o que é e onde está.
Outra "explicação" inteiramente independente é mostrar
como o cavalo é uma exemplificação especial de leis fisiológicas.
De modo semelhante, uma "explicação" de um sistema social
será a sua história, onde a conhecemos − o relato pormenorizado
de como veio a ser o que é e onde está. Outra "explicação"
do mesmo sistema se obtém mostrando (como procura o funcionalista
fazê-lo) que é uma exemplificação especial das leis da fisiologia
social ou do funcionamento social. As duas espécies de explicação
não estão em conflito, mas sim se completam.
A
hipótese funcional está em conflito com dois pontos de vista
sustentados por alguns etnólogos, e são provavelmente estes,
mantidos como o são muitas vezes sem formulação precisa, que são
a causa do antagonismo contra aquela maneira de abordar o problema.
Um é a teoria de cultura da "colcha de retalhos",
designação essa tirada de uma frase do Professor Lowie 10 em que
ele fala dessa "salada confusa e sem plano, essa colcha de
retalhos chamada civilização". A concentração da atenção
no a que chamam a difusão dos traços culturais tende a produzir uma
concepção da cultura como sendo uma coleção de entidades
disparatadas (os chamados traços) reunidas por puro acidente
histórico e tendo apenas relações acidentais umas com as outras. A
concepção é raramente formulada e mantida com qualquer precisão,
mas, como um ponto de vista semiinconsciente parece controlar o
pensamento de muitos etnólogos. Está, é claro, em conflito direto
com a hipótese da unidade funcional dos sistemas sociais. O segando
ponto de vista que está em conflito direto com a hipótese funcional
é aquele de que não há as tais leis sociológicas significativas
que o funcionalista está procurando descobrir. Sei que dois ou três
etnólogos dizem que abraçam esse ponto de vista, mas foi-me
impossível saber o que querem dizer, ou em que espécie de provas
(racionais ou empíricas) baseariam esse argumento. São de duas
espécies as generalizações acerca de qualquer espécie de
matéria-objeto: as generalizações da opinião comum e as
generalizações que foram verificadas ou demonstradas por um exame
sistemático das provas fornecidas por observações precisas feitas
sistemàticamente. As generalizações desta última espécie
chamamse leis científicas. Aqueles que sustentam não haver leis da
sociedade humana não podem sustentar que não há generalizações
acerca da sociedade humana, porque eles próprios sustentam essas
generalizações e mesmo fazem outras por conta própria. Devem eles,
pois, sustentar que, no campo dos fenômenos sociais, em
contraposição aos fenômenos físicos e biológicos, qualquer
tentativa visando a verificação sistemática das generalizações
existentes ou tendente à descoberta e verificação de novas, é,
por alguma razão não explicada, vã, ou, como diz o Dr. Radin, "é
pedir a lua". Argumentar contra tal afirmação é inútil ou
deveras impossível. Extraído de: PIERSON, Donald. 1970. Estudos de
organização social – Tomo II: leituras de sociologia e
antropologia social. São Paulo: Martins. p. 220-230.
Texto Base 2: Resumão Radcliffe Brown. In: https://pt.scribd.com/document/249678839/Resumao-Radcliffe-Brown
Radcliffe-Brown
fundou uma abordagem teórica antropológica conhecida como
estrutural-funcionalismo. Cada sociedade estudada era considerada
como uma totalidade‟, como um organismo cujas partes eram
integradas e funcionavam de um modo
mecânico para manter a estabilidade social. Como
estrutural-funcionalista, as preocupações de Radcliffe-Brown
estavam ligadas à descoberta de princípios comuns entre as diversas
estruturas sociais, o significado dos rituais e mitos e suas funções
exercidas na manutenção da sociedade. A abordagem foi fortemente
influenciada por Durkheim.
Radcliffe-Brown adota como método os
estudos comparativos, e observa semelhanças nas formas de
representação de divisões sociais, notando que vários povos, de
lugares distintos e sem contato histórico, usam como simbologia
pássaros, para explicar o mundo e as relações existentes. Por
conseguinte, o autor focaliza seus estudos nas estruturas sociais,
que segundo ele, ocupavam de maneira consistente os fenômenos
sociais, dessa forma acreditava ser possível decifrar uma realidade
concreta. Para o autor a antropologia social teria como tarefa a
investigação da natureza das instituições sociais.
De acordo com
o autor, o método comparativo ajuda o antropólogo a conhecer as
semelhanças e as diferenças das estruturas de cada sociedade, além
disso, o método comparativo não necessita da quantidade e qualidade
do material coletado em campo, mas também, de investigações e
hipóteses que orientam as investigações.
O método comparativo de
Radcliffe-Brown se baseia nos estudos e na observação de diversas
formas de vida social e na teorização das mesmas. O autor retoma
algumas ideias de Boas quando este pretende reconstruir a história
de regiões e povos particulares a fim de compará-los quanto a
alguns costumes e ideias semelhantes, mesmo sem nenhuma ligação
histórica entre os povos ou origem comum.
Para Boas a etnologia
teria como missão desvendar, como leis semelhantes operam mundos
nativos diferentes. A ocorrência de fenômenos similares em lugares
culturais sem contato histórico podem sugerir resultados importantes
ao serem analisados, já que existem leis que atuam na mente humana
nos mesmos moldes, e em toda a parte. Desta forma, Boas evoca que a
antropologia social deve estudar as regularidades encontradas no seio
de cada sociedade primitiva.
RADCLIFFE-BROWN,
A. 1973. “Sobre a Estrutura Social”, “O conceito de função
nas Ciências Sociais”, In:
Estrutura e Função na Sociedade Primitiva,
Petrópolis, Vozes. (pp. 27 a 45, 220 a 251). In: file:///D:/Downloads/Radcliffe-Brown_Estrutura%20e%20fun%C3%A7%C3%A3o%20na%20Sociedade%20primitiva.pdf
-
Qual analogia o autor usa para pensar o conceito de função?
-
Qual conceito de função ele quer implementar na ciências social?
-
Qual sua noção de estrutura social? Como ela difere da sua noção de forma estrutural? Qual tem continuidade e qual é mais afetada por mudanças?
-
Cada costume tem sempre a mesma função em qualquer sociedade?
-
Que modelo de ciências ele quer trazer para a antropologia?
-
O que ele quer dizer com a noção de pessoa, diferenciado-a daquela de indivíduo?
-
Qual o papel das instituições?
-
Qual noção de cultura podemos inferir no texto?
Videos aulas:
Radcliffe Brown y el estructural-funcionalismo británico - Antropología Social - Educatina
La teoría funcionalista de la cultura - Antropología Social - Educatina
Metodo Comparativo em Radcliffe Brown
RadCliffe-Brown e Malinowski, e o seu crush no funcionalismo - Monitoria
Tutorial // Explicacion de el estructural funcionalismo
Estructural Funcionalismo
Estructural funcionalismo
Metodo Funcionalista
RADCLIFFE-BROWN.
“Sobre a Estrutura Social”. In: Estrutura e função na sociedade
primitiva. Petrópolis, Vozes, 1973. Pp. 232-251.
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